Por Padre José Lenilson de Morais, Vigário Paroquial de Sant’Ana e São Joaquim, em Sâo José de Mipíbu.
“Vánitas vanitatum, omnia vánitas” (Ecle 1,2). Acabamos de acompanhar a corrida eleitoral, onde vimos um pouco de tudo. Mais uma vez dezenas de candidatos mostraram que seu interesse maior era simplesmente o poder, o dinheiro e o que se consegue com eles. Durante as eleições dar-se uma espécie de “pílula analgésica coletiva” que neutraliza a consciência crítica em relação ao grupo ao qual se pertence.
Na verdade, a maioria esquece que “tudo é vaidade” e que “nós também passamos”. Todo poder, glória, fama, riqueza, sucesso, sabedoria, luxo, saúde passam; bem como passam a dor, o choro, a humilhação, a vergonha, a fome, a doença. Assim é a existência humana sobre a terra. Quem hoje tem saúde amanhã poderá está enfermo; quem reina em seu trono imaginário, amanhã poderá ser destronado; quem se vangloria de sua fama, amanhã poderá chorar sua vergonha; enfim, quem hoje vive – e somente quem vive – amanhã morrerá: “Verá morrer os sábios, o louco e o insensato morrerão juntos, deixando aos outros suas riquezas… mas o homem na prosperidade não compreende, é como o animal que perece” (Sl 49, 11.12).
Como em todos os anos, neste dia 02 de novembro, celebraremos a memória de “todos os fiéis defuntos”. Muitos são os sinais que nos ajudam a recordar e manter algum vínculo afetivo espiritual com aqueles que nos precederam: são flores para dizer do nosso amor e saudade, velas para recordar a fé e a luz de Deus, orações para indicar nossa esperança na vida eterna. Contudo, um aspecto não deveria ser esquecido: “tudo passa, nós também passamos”. A meditação de que somos apenas transeuntes neste planeta chamado “terra” poderia nos envolver também durante o “Dia de Finados”, pois os “finados” já foram caminheiros no mundo como nós. A sorte – no sentido de realidade definitiva, após o encontro com Deus – dos falecidos não pode ser revertida, mas nós, enquanto há tempo, poderemos sempre repensar nossa escolhas, refazer nossos projetos, recomeçar nosso caminho, reescrever a nossa história. Para o crente – todo aquele que crê – a sua fé em Cristo é sinal de esperança numa eternidade feliz, longe de tudo aquilo que foi limite, contingencia e “castigo”. A morte pode ser vista como algo terrível e assustador, porém ela é, na verdade uma benção, é quase, como cantava S. Francisco, “a irmã morte”, que cumpre também sua missão nos desígnios do Senhor. Ela iguala a todos, acaba com a injustiça, elimina a fama, retira as máscaras, põe fim ao sofrimento, destrona os poderosos, ridiculariza os sábios deste mundo que negam a Deus. É como se fosse posto na lápide sepulcral de cada um, dos que creem e dos que não creem: “Estás morto, Deus está vivo! Estarás vivo nele?”.
Jesus Cristo, Palavra eterna do Pai, aquele que não mente, nos garantiu ser ele a Ressurreição e a Vida: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (Jo 11, 25-26). Acolher esta palavra não deveria se reduzir a uma visita anual ao cemitério ou a anotação do nome do ente querido para a Missa pelos falecidos. Crê nesta Pessoa, Palavra de Deus, é perguntar-se sobre o que é realmente essencial na vida, o que de bom estamos fazendo com ela, que mal precisamos urgentemente evitar, que perdão dar, que atitude reparar, que alegria favorecer, que amor verdadeiramente amar, pois, rapidamente, “tudo passa e nós também passamos”.
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