A CRISE NA CARCINICULTURA DE NÍSIA FLORESTA

Por Agripino Junior, do Nísia Digital.

Nísia Floresta sempre teve a sua imagem econômica celebrizada como “a terra do camarão”. Isso pelo fato de o pescado ser abundante na região, a ponto dos turistas, que passam por aqui, em primeiro lugar, desejar saborear esse prato gastronômico. De início, o pescador vivia da pesca rudimentar do camarão da terra, mas no final dos anos noventa, houve um investimento maciço da construção de viveiros na região, fato que tornou o setor da carcinicultura como uma área de grande viabilidade econômica para os detentores dos viveiros. Trata-se de uma cultura que exige todo um aparato técnico e cuidados, mediante á exposição a doenças. Nesse ponto, atualmente, os carcinicultores, que produzem em Nísia Floresta, estão enfrentando um grave problema que suspeita ser uma doença oriunda de um vírus, denominada “a mancha branca.”

Conforme relato de José Moreira, administrador de um viveiro na região conhecida como “Ilha”, ainda não é possível afirmar com certeza se a doença que chegou a Nísia Floresta é mesmo a mancha branca. “Até o presente momento, não houve nenhum tipo de estudo sobre o que ocorre em nossos viveiros. Sem o parecer técnico sobre o fenômeno, não há como ter certeza se isso é a mancha branca”, reforça Moreira.

Diante desse problema, os empresários do ramo necessitam tomar decisões, a fim de manter o negócio funcionando. Tais medidas têm afetado muitas pessoas. “Em tempos de grandes despescas, nós chegávamos a trabalhar com 60 pessoas semanalmente, sendo que 30 eram fixos e com carteira assinada. Agora, há somente 20 funcionários registrados e convocamos apenas dois extras quando necessário”, disse o senhor Moreira que já trabalha há muito tempo no setor.

O Nísia Digital visitou dois viveiros da região e pode constatar a grande queda na produção. Alguns viveiros estão no processo de renovação da água e outros já estão secos. Os empresários que possuem muitos hectares de viveiros ainda conseguem se reerguer, o que não acontece com os pequenos produtores. Muitos deles já tiveram que encerrar as suas atividades.

O técnico agrônomo, Terto, que atua na carcinicultura desde os anos 90, afirma que o problema não ocorre só em Nísia Floresta. “Esta doença devastou toda a indústria carcincultora do Equador, que passou muitos anos sem produzir camarão. No Brasil, a mancha branca apareceu, primeiramente, em Florianópolis-SC, depois de um tempo sem notícias, voltou a surgir na Bahia e vem se alastrando por vários estados nordestinos”.

“Grandes empresas do ramo no RN já estão tendo sérios problemas diante dessa situação. Isso tem gerado grandes prejuízos e, consequentemente, muito desemprego”, complementou Terto, analisando o atual quadro da carcinicultura no RN.

Na Secretaria de Desenvolvimento Rural e Pesca de Nísia Floresta não há um levantamento mínimo de quantos viveiros existem no território nisiaflorestense. Seria importante saber de quanto é a produção estimada e quantos empregos diretose indiretos são gerados como o comércio do camarão. Como não existe nenhum relatório ou estudo sobre essa cultura tão importante para o desenvolvimento econômico da região, a dificuldade em ajudar os carcinicultores da região fica maior.

Muitos dos empresários estão migrando da produção de camarão para a de peixes. A realidade é que, se nada foi feito para tentar sanar os problemas, Nísia Floresta muito em breve não fará mais jus ao título de “terra do camarão”, pois os produtores não irão mais produzir, e os restaurantes terão dificuldades adquirir o produto. E nosso principal produto gastronômico e turístico pode desaparecer.

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Uma resposta para “A CRISE NA CARCINICULTURA DE NÍSIA FLORESTA”

  1. Robert Steven Krasnow

    Alguns carcinicultores da região estão substituindo o camarão (p. vannamei) para a tilápia. A tilápia, peixe de água doce com crescente mercado doméstico e internacional, se adapta perfeitamente as condições de salinidade generalizadas na região de Nísia Floresta. A criação de tilápia isoladamente ou em policultivo com o camarão é uma prática largamente empregada como uma ferramenta no combate e convivênçia na presença do vírus de mancha branca. Em outros países, como Equador aonde a mancha branca tem assolada o cultivo de camarão, a utilização do cultivo de tilápia permitia aquele país não somente desenvolver uma cadeia produtiva forte de tilápia como abriu o caminho para o atual resurgimento da carcinicultura com marcante presença no mercado mundial.

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