Andrielle Mendes
Diário de Natal
A gestante Sheila Maria da Silva, 24, se queixa de dores abdominais desde quinta-feira. Grávida de oito meses de seu quarto filho, ela procurou atendimento na Maternidade Divino Amor, em Parnamirim, na sexta pela manhã e foi informada de que deveria dirigir-se à Maternidade Januário Cicco, na capital. “Acho que vou por conta própria”. Sua mãe, Cleonice Alves da Silva, 62, se angustia. “Será que a Maternidade Januário Cicco vai conseguir atender todas as gestantes?”. Cleonice é funcionária da saúde e conhece bem o quadro. “O bebê dela não pode pagar por isso”.
Reivindicando a implementação do plano de cargos, carreiras e salários, a formalização do contrato de trabalho, realização de concurso público e repasse de reajuste salarial, obstetras e pediatras da Maternidade Divino Amor entraram, ontem, em greve por tempo indeterminado, deixando Parnamirim e mais 13 municípios sem cobertura. Apenas casos de urgência ou em risco de morte serão atendidos na maternidade.A regra é transferir todos os outros casos para os hospitais e maternidades públicos de Natal. Também está suspensa a realização de cirurgias eletivas pela equipe médica.
O obstetra Ricardo Coloucci esclarece que 30% do efetivo vai ser mantido em concordância com a Lei da Greve. Segundo Ricardo, cinco obstetras deixaram o trabalho nos últimos meses devido à baixa remuneração, alta carga de trabalho e dificuldade em fechar as escalas. Os obstetras e pediatras reivindicam a equiparação de salários. Enquanto os anestesistas recebem R$ 700 por plantão, obstetras e pediatras recebem R$ 300. O obstetra Yuri Adrenovitch informa que falta médico para realizar o atendimento à população e que as escalas não estão completas, por que os médicos estão saindo. O presidente do Sindicato dos Médicos do RN, Geraldo Ferreira, declarou que os médicos só voltarão a trabalhar depois que a Secretaria de Saúde de Parnamirim atender as reivindicações.
Elisangela Costa foi outra gestante que procurou atendimento na manhã de ontem. Ela foi informada, minutos depois de chegar à maternidade, que seria encaminhada à Maternidade Januário Cicco. O problema é que Elisangela, já em trabalho de parto de gêmeos, não sabia como chegar até lá. A ambulância que a trouxe à maternidade é de um político em Macaíba e tinha hora marcada para retornar ao município e buscar outra gestante. “Eu não sei quem eu procuro aqui”. De janeiro a agosto de 2009, a equipe médica realizou 3.163 partos normais e cesárias, sendo que a média mensal é de 450 partos e a diária de 14 partos por dia.
Contratos
O secretário de Saúde de Parnamirim, Marciano Paizinho, informou que algumas reivindicações poderiam ser atendidas a médio prazo, como a formalização dos contratos. A Secretaria de Saúde e a Procuradoria Geral do Município estudam uma forma de formalizar os contratos com os obstetras e pediatras, que não têm nenhum vínculo empregatício com a maternidade.
Marciano esclarece que um concurso para contratação de médicos vai ser realizado em 2010. Segundo ele, o único pontoque não poderá ser atendido pela Secretaria é o reajuste salarial dos médicos, devido a queda gradual da arrecadação do município. “A greve dos obstetras e pediatras é um fator preocupante, por que a Divino Amor é a única maternidade de Parnamirim e é referência em todo o Rio Grande do Norte”.
A diretora geral da Maternidade Divino Amor, Elisabete Carrasco, explica que o serviço ambulatorial vai ser mantido. Além disso, os profissionais da UTI Neonatal e da Unidade de Internação de médio risco não pararam. Para Elisabete, a paralisação da maternidade de Parnamirim irá sobrecarregar as maternidades de Natal. A diretora reconhece que o serviço na Divino Amor está sobrecarregado e que as escalas de plantão estão incompletas.
Saiba mais
Municípios que enviam gestantes para Maternidade Divino Amor em regime de pactuação:
Afonso Bezerra
Arês
Canguaretama
Monte Alegre
Nísia Floresta
Lagoa de Pedra
Passagem
Pedro Velho
Presidente Juscelino
Santo Antônio
Senador George Avelino
Vera Cruz
São José de Mipibu
Deixe um comentário