Por Pe. Matias Soares, Vig. Episcopal Sul e Pároco de S. J. de Mipibu

1209039_420952674692422_1748341249_nO tema da “crise” entrou no vocabulário das ciências humanas e teve seu eco na teologia. Isto porque, mesmo como ciência ou discurso sobre Deus e a sua Revelação, esta última não dispensa os outros paradigmas para poder atualizar a sua reflexão às circunstâncias nas quais os fiéis estão inseridos. Quando fazemos um breve percurso na história desta augusta ciência, vemos que este intento sempre fez parte da sua trajetória epistemológica.

A vida e o ministério dos presbíteros não podem ser interpretados, só e somente só, com categorias das ciências sociais. Trairíamos o objetivo e o objeto da ciência teológica se assim o fizéssemos. O grande erro de outros estudiosos em querer anular esta reflexão, e até negá-la, está neste ponto. Temos que pensar o seu tecido tendo como pressuposto o dado da fé. Para nós, cristãos, esta referência deve ser clarividente. O Papa emérito, Bento XVI, ao promulgar o Ano da Fé, chamou-nos a atenção acerca deste dilema do homem contemporâneo. Este passa por uma profunda crise de fé (Porta Fidei, n. 2). O pontífice não diz que quem está fora da Igreja é que passa por esta crise, mas fala a todos e especialmente a quem está dentro da Igreja.

Autores duma linhagem teológica mais voltada para a historicidade da fé e sua relação com o circunstancial, como Clodovis Boff e J. Batista Metz, estão escrevendo sobre a necessidade duma mística cristã que corresponda aos anseios do homem de hoje. Sabemos que estas proposições não carregam em si nenhuma novidade para a antropologia cristã; contudo, o que podemos tirar como conclusão é que até mesmo quem condiciona o evento cristológico às categorias da filosofia moderna de perspectivas mais históricas, que não quer dizer historicistas, já está sentindo que os elementos da subjetividade contemporânea não podem dispensar os dados e possibilidades da teologia, mas, outrossim, estes não podem exorcizar os elementos que direcionam a condição humana na Posmodernidade. A afirmação do Papa teólogo é uma assertiva de alguém que faz a hermenêutica da realidade a partir de Deus, ou seja, com um olhar teológico da Igreja e do Mundo. O presbítero de hoje passa pelos mesmos dilemas que afligem os seres humanos na Modernidade. Dentre estes a falta de fé pode ser constatada. O evangelista afirma que conhecemos a árvore pelos seus frutos (Lc 6,43-44). A condição existencial do presbítero não pode ser ingenuamente ou sorrateiramente deixada em segundo plano. Até mesmo na teologia escolástica era reconhecido que do ser é que temos o existir. Na teologia patrística o aforismo de que a graça pressupõe a natureza também era enfatizado. A falta de motivação na vida de muitos presbíteros tem que ser analisada, antes de tudo, numa dimensão teológica. Ousariamos dizer que há a necessidade de recuperar “a mística da vida presbiteral”. O Concílio Vaticano II na Presbiterorum Ordinis já nos deu pistas de ação e de conteúdo para fazermos alguns questionamentos e buscarmos algumas soluções. Porém, podemos e devemos ir além. Os problemas que violentam a humanidade dos presbíteros de hoje são ferozes e a pedagogia da Igreja com a sua disciplina nem sempre são observadas na escolha e na formação dos futuros presbíteros. Porque passamos por alguns contratempos, devemos ter presente que só a própria Igreja seria capaz de responder a muitos questionamentos; tendo em vista o que ela foi, é e sempre será para a História da Civilização. Conferências e simpósios são realizados para discutir sobre a “identidade presbiteral”; contudo, já está na hora de tratarmos da “existência presbiteral”. Só quando cumprirmos esta tarefa poderemos dar uma resposta mais realista e honesta sobre a vida e o ministério dos presbíteros para o mundo de hoje. Esta mística presbiteral pode ser ressignificada se a própria vida cristã for fortalecida por uma fé que converte e que testemunha o que professa.

Por fim, os próprios presbíteros são os principais protagonistas desta empreitada. Comecemos por renovar, a cada dia, o nosso amor e a nossa fidelidade ao ministério para o qual o Senhor nos chamou e a Igreja nos confirmou. Assim o seja!

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Uma resposta para “MÍSTICA PRESBITERAL”

  1. Jose Carlos

    Se vc fizesse uso de termos menos tecnicos e aplicasse palavras que a grande maioria dos fiéis conseguisse entender , seu texto teria alcançado seu objetivo. Da proxima vez adapte suas palavras a realidade deles .

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