LIBERDADE E SEMANA SANTA

Por Pe. José Lenilson de Morais, Vigário Paroquial de S. J. de Mipibu.

“É para liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Como sabemos, esta afirmação de Paulo foi escolhida pela CNBB para ser o lema da Campanha da Fraternidade de 2014, que trata sobre o tráfico de pessoas para os mais diversos fins, tais como trabalho forçado ou sub-remunerado, exploração sexual, adoção ilegal e venda de órgãos.  Em todas estas situações a dignidade humana é gravemente violada e desfigurada a imagem de Deus, cuja “glória é o homem vivo” (S. Irineu), isto é, o ser humano com todas as possibilidades de viver de modo tranquilo a sua própria vocação.

Todas as facetas da escravidão põem suas raízes na realidade teológico-social chamada “pecado”. De fato, o pecado “é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1849). O apego desordenado ao dinheiro, por exemplo, leva os “humanos” a venderem seus próprios semelhantes para a indústria do sexo, para a exploração de suas energias no trabalho, para a extração de partes de seu corpo. Já o apego extremado à vida pode levar um rico a comprar um órgão de um pobre necessitado. Há ainda o caso de sentir-se no “direito de ter um filho”, quase vendo a criança como um objeto de posse. Pela sua própria condição racional, a pessoa humana pode intuir que a utilização do outro como produto de mercado ou fonte de enriquecimento ilícito são ações por si mesmas intrinsicamente más. Contudo, é a fé que favorece uma luz de esperança para superar os mais variados modos de escravidão. Depois de afirmar que “é para liberdade que Cristo nos libertou”, o Apóstolo acrescenta: “Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao julgo da escravidão” (Gl 5,1). A liberdade à qual a Palavra de Deus nos convida a permanecer firmes é sem dúvida aquela operada por Cristo, o único capaz de realizar a liberdade redentora do homem todo e de todos os homens: “Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente livres” (Jo 8,36).

Toda promoção da liberdade encontra em Jesus Cristo o seu mais autentico fundamento. A Semana Santa apresenta-nos o mistério de Deus que libertou o Povo de Israel da escravidão do Egito (Ex 12 – 15) e, mais ainda, a imolação do Filho de Deus para regatar, definitivamente, os seus irmãos, até então, escravos do pecado, do demônio e da morte. O modo pelo qual o Cristo realiza a nossa redenção é que causa espanto, admiração e, também, comoção: sendo inocente fez-se culpado, tudo podendo permitiu ser humilhado, deu-nos a Vida morrendo e, quando ressuscitou, restituiu a liberdade para toda a criação. Um antigo hino pascal manifesta perfeitamente a prodigiosa ação do Libertador: “Cesse o pranto, cesse o luto: Jesus já não morre mais. Salvou o mundo corrupto e tornou-nos imortais”. A salvação operada por Cristo é, sem dúvida, a maior libertação do homem e do mundo. Pena que, por vezes, “assistimos” os atos destes dias a distancia, mesmo estando, fisicamente, próximos. Quantos prantos ainda ecoam no mundo? Quanto luto e quanta dor! Pessoas humilhadas no trabalho e por trabalho, doentes morrendo nos corredores dos hospitais, crianças chorando pelos cantos das casas e das ruas, mães desesperadas pelos jovens que não chegam mais vivos, mulheres e homens tratados como “coisa” que se compra para o “prazer abusador”. Mais uma Semana Santa, mais um grito do alto da Cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” A resposta de Deus foi inesperada por nós: o silencio e, depois – quando tudo parecia perdido – a Ressurreição. Deus fez tudo que lhe competia! No Ressuscitado, Ele deu as condições de vida e liberdade para a sua Imagem que abita nesta terra. Agora resta a nossa parte: “Onde está teu irmão?” (Gn 4, 9), onde teu irmão chora escravizado? Nossa resposta é a mesma de Caim: “Acaso sou guarda do meu irmão?” (idem). Podemos, pelo contrário, viver a Semana Santa com a atitude do Cristo que “tendo amado os seus que estavam no mundo, amo-os até o fim” – até o extremo (Jo 13, 1). Deus tenha piedade de nós!

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