Por Cláudio Marques, professor e colunista do Nísia Digital.
Em 29 de agosto de 2013, os paroquianos de Nossa Senhora do Ó comemoraram os históricos 180 anos de evangelização, fé e ação pastoral. A Paróquia, uma das mais antigas do nosso estado Rio Grande do Norte, já acolheu, em seu espaço, personagens peculiares que transformaram a vida do povo nisiaflorestense, como as Irmãs da Congregação de Jesus Crucificado, os primeiros e recentes Padres que foram fecundos em seu sacerdócio.
A filha mais ilustre, Nísia Floresta Brasileira Augusta, que, mesmo tendo apenas nascido e vivido sua infância em nossa terra Papari, foi batizada na Igreja Matriz e com certeza experienciou as primeiras lições catequéticas à luz da Igreja Católica da Senhora da Expectação – como também é intitulada Nossa Senhora do Ó.
Conforme estudo da historiadora Rosana Mafra, existe registro de que a capela de Nossa Senhora do Ó foi iniciada em 1703 – no entanto, não há informações seguras sobre essa fonte. E em registros paroquiais, consta que a capela passou por ampliação para se tornar Igreja no século XVIII entre 05 de setembro de 1735 e 16 de agosto de 1756, contudo, a vida religiosa do então povoado de Papari é bem mais antiga, data do século XVI com a chegada de Padres da Companhia Jesus, que iniciaram as “missões volantes”.
Tais “missões” tinham o objetivo principal de catequizar os índios, ganhando almas para Cristo e fiéis para a Igreja Católica Apostólica Romana. Em algumas regiões do Brasil, essas missões eram fixas, já no caso de Papari, como na Capitania do Rio Grande (do Norte), possivelmente por causa de sua extensão territorial e pelo fato bispado ser sediado em Pernambuco, as missões recebiam o nome de “Volantes”, pois os Padres jesuítas passavam certo período em uma região, onde faziam seu trabalho de ensinar os nativos não apenas a ler e a escrever para compreender o evangelho e sua catequese, mas também atividades manuais e agrícolas. Após essas ações, deslocavam-se para outro local, a fim de desenvolver o mesmo trabalho, retornando periodicamente das missões. Sabe-se que a criação de uma missão em Nísia Floresta possibilitou o desenvolvimento de uma cultura agrícola e pesqueira regional.
Em um contexto maior, na data de 12 de outubro de 1633, após intensas batalhas, os holandeses, finalmente, conseguiram o domínio do Rio Grande e, aqui, permanecendo até 1654. Durante 21 anos, Papari não teve um crescimento considerável, mesmo porque o que interessava aos holandeses eram terras que possibilitassem a produção de cana de açúcar – “A empresa açucareira na capitania do Rio Grande (do Norte) não teve um desenvolvimento acentuado. Um dos motivos para que isso ocorresse é que a Zona da Mata tem uma área muito pequena. Alguns poucos engenhos merecem destaque no período colonial: Cunhaú, Uruaçu e Ferreiro Torto.” (TRINDADE, 2004). Diante disso, a nossa região produzia subsídios como: gado, pesca e produtos agrícolas.
Conforme o Relatório do Conde Maurício de Nassau em 1638, é mencionada a existência de quatro freguesias na Capitania do Rio Grande, onde uma dessa era a de Mopebu (Missão do Papary ou da Ribeira do Mopebu); informação já conhecida desde 1635 pelo Pe. Manuel de Morais, que citou a existência da Aldeia de Mopebi – Monpabu (DUSSEN, 1639); Mopebu (NASSAU, 1638).
Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco, a sua permanência no Rio Grande se tornou impossível, forçando os mesmos a abandonarem nosso Estado. Com isso, em 1654 o Aldeamento de Papari continuava sem um amparo religioso, o que nos leva a imaginar a possibilidade de realização de esporádicos cultos da “igreja familiar”.
No início do século XVIII, mais precisamente no ano de 1703, agora sob domínio português o povoado de Papari viveu um considerável impulso motivado pela abundância da pesca e da qualidade agrícola, graças à boa terra para o plantio.
Fortalecidos por uma eficaz catequese, logo os habitantes se interessaram na construção de uma capela onde pudessem praticar suas orações e ritos sacramentais. Orientados por Frades Capuchinhos italianos e patrocinados pelas famílias Gusmão, Pires e Marinho, em cinco de setembro de 1735, deram início à construção da Igreja Matriz de Papari (como ampliação da capela).
De acordo com a tradição histórica, as pedras usadas para a construção da Igreja foram trazidas do “Canvão” (região próximo ao distrito do “Timbó”), e a areia trazida da Boágua (uma das lagoas de Nísia Floresta), acrescida de uma mistura de barro, cal e óleo de baleia construíram a argamassa para erguer as largas paredes do templo. A Igreja possui características de arquitetura barroca, além de delicados detalhes ricamente trabalhados. Há ainda dois “nichos” – que se encontram às imagens de Nosso Senhor dos Martírios e Nossa Senhora do Rosário. – vindos da Ilha da Madeira- Tais vieram semimontados. Sem contar com as preciosidades em arte sacra, imponentes e expressivas imagens conduzidas em dias de posições. Na estrutura, existem duas semitorres (isso hoje) que atestam o status de seu povo, uma vez que os custos para a finalização das torres pareceu inviável ou inoportuno. Um registro fotográfico datado de 1940 mostra a construção de uma segunda semitorre, que leva-se a inferir que a Igreja quando construída possuía uma semitorre, característica de Igrejas barrocas.
Por fim em 16 de agosto de 1756, os trabalhos findaram, e a Igreja de Nossa Senhora do Ó da Freguesia de Papary – Freguesia é o nome dado a menor divisão administrativa, correspondente à paróquia civil. – já podia receber seus fiéis. Acredita-se e que a escolha do nome Nossa Senhora do Ó foi devido à influência portuguesa já que essa devoção surgiu na Espanha, mas se fixou em Portugal.
“Nossa Senhora do Ó é uma devoção mariana surgida em Toledo, na Espanha, remontando à época do X Concílio, presidido pelo arcebispo Santo Eugênio, quando se estipulou que a festa da Anunciação fosse transferida para o dia 18 de Dezembro. Sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, este determinou, por sua vez, que essa festa se celebrasse no mesmo dia, mas com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria. Pelo fato de, nas vésperas, se proferirem as antífonas maiores, iniciadas pela exclamação (ou suspiro) “Oh!”, o povo teria passado a denominar essa solenidade como Nossa Senhora do Ó. Em Portugal, o culto à Expectação do Parto, ou a Nossa Senhora do Ó, teria se iniciado em Torres Novas (Santa Maria, Frei Agostinho – Santuário Mariano), onde uma antiga imagem da Senhora era venerada na Capela-mor da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo.” (https://pt.wikipedia.org).
A partir de 1740, o Aldeamento do Mipibu (Papary) fora transferido da Ribeira do Mipibu para onde foi construída a Capela de Sant’Ana, localizada na atual cidade de São José de Mipibu, sendo elevada à categoria de Vila de São José de Mipibu em 22 de fevereiro de 1762. E os fiéis da Freguesia do Ó, sob “jurisdição” de Sant’Ana, sentiram a “(…) necessidade de uma presença religiosa mais ativa, isto é, eles queriam um padre e, com isso, a elevação de igreja para paróquia. Com esse intuito, em 1762, a comunidade que se reunia para rezar na capela de Nossa Senhora do Ó conseguia com o casal Diogo Rebouças e Felipa de Oliveira a doação de mil e cem braças de terra para a capela de Nossa Senhora do Ó.”
“Com o patrimônio formado e a Igreja construída, só faltava esperar o decreto de criação da paróquia. A Paróquia de Nossa Senhora do Ó foi criada aos vinte e nove de agosto de 1833, pelo decreto nº44 do Imperador Dom Pedro II, tendo sido desmembrada da Paróquia de São José de Mipibu.” (http://nisiadigital.com.br)
No mesmo ano, o jovem Padre Antonio Gomes de Leiros assumiu a recente Paróquia, o tal Vigário, da então Vila de Papari, entrou em uma disputa por férteis terras as quais não pertenciam ao patrimônio paroquial, o frutífero sítio do Sr. Tomás Marinho. O fato é que em uma ação de desespero e movido pela fúria, o Sr. Tomás Marinho assassinou o jovem Padre (fontes afirmam que o julgamento sobre a questão foi decidida a favor do Padre, porém há outras fontes indicando que a questão ainda não tinha sido decidida). Trata-se do local próximo onde, atualmente, é o “Supermercado Dois Irmãos” na Rua Prof. João Batista Gondim. – O assassino chegou a ser preso, mas fugiu, dez anos depois foi reconhecido e perseguido em Assu no Rio Grande do Norte e, antes que fosse preso, sofreu um enfarto e faleceu.
Diante desse acontecimento, o bispo diocesano de Pernambuco (naquela época a paróquia pertencia ao bispado do Pernambuco), Dom João da purificação mandou o padre José Alexandre para assumir a Paróquia de Papary.
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