Por Agripino Junior, do Nísia Digital.
No próximo domingo, dia 11, o Pe. Fábio Pinheiro Bezerra, natural de Santa Cruz, se despedirá da Paróquia de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta, pelo menos do cargo de administrador paroquial da mesma. Seguindo a determinação da Arquidiocese de Natal, por meio da decisão do Arcebispo Metropolitano, Dom Jaime Vieira Rocha, o sacerdote irá se transferir para Paróquia de Nossa Senhora Mães dos Homens, no município de João Câmara. Com certeza, deixará muitas saudades na maioria dos cristãos católicos da antiga Papary.
O Nísia Digital realiza essa entrevista com o padre, para que ele possa comentar sobre esses anos que passou à frente da Igreja Católica em Nísia Floresta, sobre a sua transferência e sobre as suas expectativas na nova missão que assumirá a partir da próxima semana.
Confira a entrevista completa a seguir:
Nísia Digital: Como foi a sua reação a saber que seria transferido da Paróquia de Nísia Floresta para a de João Câmara?
Padre Fábio: Confesso que não esperava ser tão rápida, a minha transferência. Contava que pudesse realizar ainda alguns projetos que tinha em mente. Contudo, estou ciente de que sou padre para a Igreja e vou aonde ela me convocar, pois prometi servi-la em qualquer tempo através dos meus superiores.
ND: Quando chegou a Nísia Floresta, quais foram as suas impressões sobre o momento da igreja católica na cidade?
PF: Quando aqui cheguei vim com informações que o povo de Nísia Floresta era um povo frio, que não manifestava sua fé com vivacidade, que não tinha expressões religiosas visíveis, porém pude constatar que nem tudo é verdade. Que é um povo católico de uma fé viva, que apenas precisa ser cultivada. Um povo também hospitaleiro que sabe expressar sua fé de um jeito próprio e aberto ao novo, a viver, professar e celebrar a evangelização a partir da motivação de “quem” conduz o rebanho. Certa vez disse um padre: “A paróquia é reflexo do padre e o padre da paróquia”.
ND: Conte-nos um pouco como foi a sua trajetória em terras nisiaflorestenses.
PF: Quando fui ordenado Presbítero o então Arcebispo de Natal, Dom Matias Patrício me enviou a Nísia Floresta para cooperar na vida pastoral e administrativa com o Pe. José Lenilson de Morais. Cheguei aqui dia 27 de novembro de 2010. Era um domingo, dia de Nossa Senhora das Graças. Com Pe. Lenilson vivemos momentos muito bons. Foi um experiência singular. Pudemos juntos realizar alguns projetos. Com a sua renuncia assumi a administração paroquial e procurei continuar a missão que juntos começamos cultivando entre os paroquianos, sempre uma comunhão entre pastor e ovelha. Procuramos estar próximos dos fiéis como deve ser a Igreja, mesmo com todas as nossas limitações. Creio que a grande missão da Igreja hoje deve ser a de acolher. O cristão na Igreja precisa se sentir em casa! A Igreja deve ser a sua casa! Procurei com todos os defeitos semear e cultivar isto.
Depois de falar da mais importante missão, que ao meu ver é da herança espiritual que deve permanecer no coração de cada nisiaflorestense, que pode retornar a Casa de Deus, gostaria de citar ainda alguns feitos, que sem a colaboração indispensável de cada paroquiano não teria sido possível:
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Os novos bancos para a igreja matriz;
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As grades que ladeiam a matriz (causa de polêmicas);
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O novo equipamento de som (sonho realizado) e instrumentos musicais;
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Muitas imagens que estavam deterioradas e foram restauradas;
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Um novo ostensório, turíbulo, castiçais ladeando o altar, cadeira presidencial;
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O galpão no Centro Pastoral (a ser concluído);
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O balcão do dízimo e quase toda a mobília da casa paroquial.
Esse legado é o menos importante, mas necessário ser dito. Faço minhas as palavras do evangelista Lucas: “somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10).
Como diz uma canção de Richard Clayderman: “não fiz tudo que eu quis, mas sou feliz, não fui perfeito. Errei, mas eu tentei fazer direito”.
ND: Destaque os momentos que mais lhe marcaram positivamente.
PF: Entre tantos momentos importantes e felizes, quero citar apenas dois: A Semana Missionária e o Cerco de Jericó, momentos ímpar de evangelização, de visitas às casas, de adoração perpétua, de procissões, de celebrações eucarísticas nas ruas, cercamos todo o centro da cidade. O segundo momento foi a celebração do jubileu da Campanha da Fraternidade, onde trabalhamos incansavelmente para que tudo saísse da melhor forma possível. A presença de tantos bispos, padres, religiosos(as), leigos(as) consagrados, além das inesquecíveis irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. Enfim, a presença do povo de Deus que de fato vestiu a camisa da CF. Momentos inesquecíveis.
ND: Houve momentos difíceis?
PF: Sim. Sempre contamos com os espinhos. Com eles aprendemos a confiar mais na graça de Deus, e que só é possível chegar as pétalas se estivermos dispostos a passar pelos espinhos. Entretanto, prefiro não citá-los.
ND: Como avalia as últimas mudanças feitas pelo arcebispo de Natal, transferindo diversos padres entre algumas paróquias?
PF: Costuma dizer o nosso bispo: “A Paróquia é maior que o padre; A Diocese maior que o bispo; e a Igreja é maior que o Papa”. Nós todos estamos muito acostumados a olharmos apenas para as nossas realidades, e por vezes esquecemos que a missão da Igreja é vasta e que o bispo, como o próprio nome Episcopói, em grego nos diz: é aquele que vigia, que governa. Ele como sucessor dos apóstolos é o responsável por ver as necessidades da Igreja. Portanto, é a Igreja que precisa, são os nossos irmãos de outras realidades, que precisam de evangelização e eu não posso ser egoísta e pensar somente que a evangelização se restringe ao meu território. O bispo sabe certamente o que faz, pois não decide sozinho, tem um conselho de vigários episcopais e padres conselheiros.
ND: O que achou do movimento que foi realizado pedindo a sua permanência na Paróquia de Nossa Senhora do Ó?
PF: Creio que as manifestações de carinho são positivas e devem ser externadas, sem dúvida. Agradeço o carinho e atenção que me foram transmitidos, porém não concordo com alguns comentários negativos em relação ao bispo, de palavrões, palavras indecentes que não condizem com a conduta de um cristão. Eu confesso que não semeei desobediência à autoridade da Igreja, em momento nenhum.
Quando o bispo me convocou para a conversa, falei sobre alguns projetos para Nísia Floresta que ainda precisavam ser concluídos, porém ele nos apresentou a urgente necessidade pastoral de João Câmara e que contava comigo naquela nova missão, e eu como cooperador do ministério episcopal disse sim ao chamado da Igreja. Há em meu coração um misto de tristeza e alegria. De tristeza por deixar em um pouco espaço de tempo Nísia Floresta e alegria por poder servir a Igreja de Nosso Senhor, pois é esta a nossa missão.
ND: Quais são as suas expectativas para sua nova missão, em João Câmara?
PF: Estou levando a experiência de um paroquiato vivido em curto prazo de tempo, mas que muito me servirá. É uma outra realidade, certamente. Um desafio a ser enfrentado na evangelização de 64 comunidades contando com a realidade de muitos assentamentos. Porém estou feliz em poder servir a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, grato ao governo diocesano por poder confiar na minha juventude uma missão tão importante que é a de ser sinal de Jesus para aquele povo. Contando certamente com as orações de todos.
ND: Deixe a sua mensagem para o povo de Nísia Floresta.
PF: Ao meu amado povo de Deus em Nísia Floresta, amo muito todos vocês! Aqui em Nísia vivi as primícias do meu sacerdócio. Aqui Cristo realizou em mim, as primeiras missas, os primeiros batizados, as primeiras confissões, os primeiros casamentos, as primeiras unções dos enfermos, tudo foi em primeiro lugar, aqui. E como dizem: “o primeiro amor a gente nunca esquece”. Gostaria de dizer: continuem fiéis a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, nela está a verdadeira Igreja de Cristo, nela podemos receber todos os sacramentos que nos conduzem ao céu. Amem a Igreja. Continuem protagonistas de um mundo novo, de uma paróquia que esteve sempre a frente da evangelização, que é berço da Campanha da Fraternidade. Sejam destemidos! Avancem, para construir uma sociedade baseada nos princípios éticos e morais! E assim como sempre nos acolheu bem, acolha o Pe. Ajosenildo Nunes que vem em nome do Senhor para continuar a missão da Igreja, que é a de evangelizar.
Com a Virgem Maria, abençoe-nos o seu Divino Filho.
O Nísia Digital agradece ao Pe. Fábio Pinheiro pela a entrevista que nos foi concedida e pelo atenção que sempre direcionou à este meio de comunicação. Aos mesmo tempo, deseja êxito em sua nova missão na “terra dos tremores”, como é conhecida a cidade de João Câmara.
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