“VEREDAS LITERÁRIAS” – A LENDÁRIA NÍSIA FLORESTA QUE SE PERDEU NO TEMPO

Por Rejane de Souza.

As memórias fertilizaram minha mente ao ver a casa grande, na entrada de Nísia Floresta, onde morava minha tia Maria com seu companheiro José de Oliveira, irmã da minha avó materna Anísia. E a imagem me leva para os trechos de lendas fantásticas e maravilhosas que alimentavam o ambiente bucólico e primitivo daquela região. Morava no distrito de Nísia, onde minha avó paterna Maria Barbosa, de origem boliviana, e meu pai enchiam a minha imaginação de histórias que fundiam ficção com personagens e fatos reais.

Eram histórias de lobisomem, dragões de sete línguas, botijas e galinhas dos ovos de ouro, cobras, baús e cidades encantadas. Mas o que me causava mais medo era a história do dragão que vivia em quartos escuros de casas grandes. Esse aprendizado vem de longe. Quando criança, só vinha ao centro de Nísia Floresta em ocasiões especiais, e uma delas era a festa da padroeira Nossa Senhora Do Ó. Carregada por minha avó paterna, uma religiosa fervorosa, vínhamos a pé pela Ilha (um dos caminhos que levava a Nísia Floresta), no finalzinho da tarde. Nesse período, não existia energia elétrica, e o caminho era cheio de armadilhas e fantasias: rios com pontes de tábua movediça, árvores frondosas no caminho, animais soltos, aves em abundância, pequenos riachos. E aquela escuridão natural era um ambiente propício à personificação das histórias que ouvia de meu pai. E assim, a cada movimento da vegetação ou sons de aves, meu coração de criança palpitava e a imaginação tomava corpo. Todavia, esses medos eram só meus, e o único movimento que fazia era o de segurar firme a mão de minha avó, como forma de proteção. E, assim, chegávamos à casa de tia Maria. Uma casa de muitos quartos. Ia à missa com minha avó e depois retornava para a casa grande pensando na hora de dormir. Minha mente infantil visualizava os quartos fechados e viajava para as histórias dos dragões de sete línguas. E um sentimento apreensivo e curioso tomava conta de mim, porém só dormia com minha avó, pois não conseguia nem pensar ficar em um quarto sozinha naquela casa. Aquele espaço personificava as histórias contadas por meu pai. Pela manhã, após o café regional oferecido por minha tia, eu ia passear pelo sítio: subia nas mangueiras… tomava banho no riacho que cortava a área grande de sítio. E ficava no meio daquela natureza que era cúmplice de meus sonhos e de minha fértil imaginação, sonhos e fantasias. Esse pequeno relato é somente um trecho de tantas veredas e lendas que enchem de minha infância. Hoje, o espaço da casa de tia Maria deu lugar a casas de comércio, conjunto residencial e até o restaurante mais tradicional da região. E as lendas e mitos só vivem, agora, em nossas lembranças.

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