A Arquidiocese de Natal, através da sua Pastoral Universitária, realizou a sua “I Assembleia Universitária Arquidiocesana”. Com o olhar atento à própria história da Igreja, como seu movimento de diálogo entre Fé e Razão (cf. S. Paulo II, Fides et Ratio), o que muito se viveu com a ação católica, através da Juventude Universitária Católica (JUC), antes e depois do Concílio Vaticano II, com tantos ministros ordenados e fiéis leigos, que deram seu testemunho sócio-político-transformador, nos ambientes acadêmicos, aqui por nossas realidades brasileiras e potiguares, fomos chamados a dar o nosso testemunho de compromisso pastoral e sinodal na articulação dos tantos agentes universitários que são convidados a nos “dizer algo” para o planejamento e a aplicação de propostas que nos levem a sermos “sal da terra e luz do mundo”, como nos ensina Jesus Cristo, Nosso Senhor e Mestre (cf. Mt 5, 13-16).
O grande, e agora santo, Cardeal Newman, fazendo uma referência acerca do porquê que a Igreja fundava uma universidade, afirmava que “ela não está valorizando o talento, a genialidade ou o conhecimento em si, mas em benefício de seus filhos, com vistas a seu bem-estar espiritual e sua influência e utilidade religiosas, com o objetivo de treiná-los para ocupar seus respectivos cargos na vida de modo mais pleno e torná-los membros mais inteligentes, capazes e ativos na sociedade” (cf. S. John Henry Newman. “A ideia de uma universidade”, pág. 11). Nestas sábias palavras estão as preocupações a serem contempladas pela Pastoral Universitária. Ela quer ser um canal e espaço de protagonismo das ‘pessoas’. Daquela que é vocacionada a ser sujeito da história. Sua lógica não pode estar voltada para a vontade de poder; mas vontade de verdade (cf. R. Guardini). As construções sobre a necessidade da autonomia, tem uma urgência do reconhecimento do outro, com sua face e o seu nome.
A Pastoral Universitária tem suas bases contemporâneas no Concílio Vaticano II. A Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) pode ser acolhida como um referencial teórico de suma importância para o que é proposto por este ‘canal de evangelização’ das realidades acadêmicas e areópagos do saber. Em meio a tudo isso, também as reverberações – agora reconhecidas eclesialmente – da ‘ação católica’, tida como tão importante na Igreja do Brasil, no diálogo e articulação dos intelectuais de matizes cristãs. Essa perspectiva foi tida como muito importante por referenciais eclesiais, tanto dos ministros ordenados como de lideranças leigas. No Rio Grande do Norte, especialmente a partir do Movimento de Natal, esse intento foi perseguido como uma questão de suma importância para a ação eclesial, tanto nas finalidades evangelizadoras, como na sua prática social. Ainda na Universidade, a Igreja esteve presente com a participação de vários sacerdotes e, também, com lideranças católicas que assumiram responsabilidades na direção de cursos e de repartições institucionais.
Na atualidade, estamos tendo a preocupação de articular de modo pastoral, ou seja, como prática metodológica, dialógica e evangélica da Igreja como Mãe e Mestra. Na academia, ela é chamada a ser cuidadora e educadora, pelo acolhimento e testemunho. Pela ausência sistêmica da Igreja nas comunidades acadêmicas, feita de modo orgânico – tendo em vista as tantas proposições pós-conciliares formuladas pelo magistério ordinário e extraordinário e pela urgência de uma Pastoral Universitária que esteja em ‘saída missionária’ às realidades de fronteiras, onde estão os seres humanos, com suas vocações próprias e perspectivas no campo do saber, metódico e científico – torna-se extremamente urgente a sua presença testemunhal e dialógica nestes ‘lugares teológicos’. Cabe aqui, mais uma vez, a referência à Gaudium et Spes do Vaticano II. Seguindo, outrossim, um dos teólogos católicos da contemporaneidade, o grande Karl Rahner, que afirmou o seguinte: “não existe a cultura cristã, nem a educação cristã, nem a política cristã, nem o partido cristão, e assim sucessivamente” (cf. Missão e Graça), a finalidade da Pastoral Universitária, nesta linha de reflexão, não é promover a ‘doutrinação e proselitismo nas universidades’. Não! A perspectiva é evangélica, testemunhal e dialógica.
Com esse olhar, realizamos a nossa I Assembleia Universitária da Arquidiocese de Natal. Tivemos uma conferência proferida pelo Padre Danilo, que é o assessor do setor universidades da CNBB. Em sua fala, nos foi posto a identidade e perspectivas da Pastoral em âmbito nacional: a sua mística, objetivos e campos de atuação. Questionamentos foram feitos e uma partilha significativa desenvolvida pelos agentes das várias comunidades eclesiais da nossa Igreja Particular. Sentimos a falta de irmãos Presbíteros e Religiosos. O protagonismo dos fiéis não dispensa a participação e comunhão dos ministros ordenados e consagrados. A crise da identidade do ‘estilo pastoral’ da Igreja e na Igreja, mostra também uma acentuada falta de ‘encantamento’ destes membros da Igreja neste ‘processo’ evangelizador, que precisa ser permanente, comprometido e aberto ao discipulado. Além das várias instâncias da Arquidiocese, é importante a implantação desta pastoral em todas as paróquias da Igreja Particular, tendo em vista a presença da Igreja em todos os campos do saber e da cultura, tanto no presente como no futuro da sociedade.
Por fim, tenhamos presente que a Pastoral Universitária é a presença da Igreja nas universidades, mas é também a presença das universidades nas comunidades cristãs e eclesiais. É um desafio, mas com o sentido que damos à nossa missão, tudo passa ser oportunidade de crescimento e amadurecimento. Permanecer numa ‘zona de conforto’, pensando que os esquemas sacramentalistas correspondem às esperanças do ser humano hodierno, é sinal de ‘demência existencial e pastoral’. Nos lancemos às águas mais profundas, como nos admoesta o próprio Senhor (cf. Lc 5,4). A rede é lançada, sempre com respeito às liberdades; mas, acima de tudo, com plena confiança na força transformadora do Evangelho. Vamos em frente! Confiemos e valorizemos a Pastoral Universitária em todas as forças vivas e atuantes da nossa Igreja. Assim o seja!
Por Padre Matias Soares / Arquidiocese de Natal