Por Cláudio Marques, professor, graduando em história e colunista do Nísia Digital.
O mito é algo que se assemelha a lenda. Sendo o mito uma narrativa fantástica onde personagens tratam da história de um povo e tem o objetivo de explicar fenômenos dos quais não se pode explicar de forma cientifica. Os mitos eram repassados de forma oral, ou seja, as histórias eram contadas, faladas, sem escrita, repassadas de geração à geração. Só que, o que hoje (a partir da era cristã) chamamos de mitos, na antiguidade, para vários povos, era a absoluta verdade.
Uma das histórias que temos como verdade no mundo ocidental ou “ocidentalizado”, é fruto de colonizações, imperialismo e ou neocolonizações de nações cristãs. A história que você provavelmente mais conheça do dilúvio é a de Noé:
O Deus dos judeus, cristãos e muçulmanos, escrito Yahweh (escrito porque o nome de Deus era tão sagrado que seus seguidores não o pronunciavam em respeito), depois de ter criado o homem e lhe dado o “livre arbítrio”, observou que sua criação humana se tornou má e desagradava o seu coração, decidiu destruir tudo. Porém apenas um homem agradava Deus, esse homem era Noé. Deus disse a Noé que iria destruir o mundo com um dilúvio, e mandou que construísse uma arca para abrigar ele, alguns de seus parentes, mantimentos, além de um casal de cada animal. Deus fez o dilúvio cair sobre a terra e quando o dilúvio acabou, Noé e os seus saíram da arca e repovoaram a terra inteira.
Essa história servia para explicar grandes inundações; o fato de um grande ancestral comum; hierarquia; um único Deus. Entretanto o mundo mesmo sendo apenas uma ilha, é muito grande e em cada lugar existiam outros povos, e o mais interessante é que tinham histórias parecidas, cada qual com características próprias.
Bem próximo de Noé, lá no Mediterrâneo temos os gregos, que eram politeístas (acreditavam em vários deuses), tinham a seguinte versão:
Zeus o deus todo poderoso do Olimpo e do mundo, observou que os homens ficaram soberbos e maléficos; sua violência havia chegado ao limite. Então ele ordena que seu irmão Poseidon, o deus dos mares, abrisse fendas na terra para deixar que a água brotasse e inundasse tudo. Então, enormes ondas devastavam tudo o que encontravam pela frente. Contudo Zeus viu que um casal de semideuses (meio humanos meio mortais) eram justos e não mereciam morrer. Zeus orientou Deucalião (filho de Prometeu e Climene) e Pirra (filha de Epimeteu e Pandora) a refugiarem-se em um velho barco, poupando a vida dos dois que foram os únicos sobreviventes em um mundo que agora só havia mortos. Desesperados Deucalião e Pirra pediram socorro a deusa Temis (deusa da justiça), pois não queriam viver num mundo assim nem muito menos sabiam o que fazer. A deusa Têmis disse que eles lançassem pedras para trás deles mesmos. Para cada pedra que Deucalião jogava para trás se transformava resultava e um novo homem, da mesma forma aconteceria com Pirra, sendo que o resultado era uma mulher. Desta forma o mundo foi repovoado.
Fantástico, não? Mas não é mais do que os poucos membros da família de Noé povoarem a terra; ou do que um dos mitos de povos brasileiros, o povo Kamaiurá:
Existia um Pajé filho de mãe índia e pai onça chamado Sinaá, ele tinha o poder de enxergar pelas costas e podia observar tudo que se passava ou seu redor. Quando houve uma grande chuva que ameaçava inundar o mundo inteiro, o pajé Sinaá, construiu uma enorme canoa, para que todos os membros da tribo e levaram consigo sementes e mudas de todas as plantas. Quando a enchente passou todos saíram da canoa plantaram as sementes e mudas e reproduziram-se para repovoar o mundo e, viveram livres da fome.
Esses são fragmentos de histórias e existem muitas outras (mitos ou lendas) que nos ajudam a entender que nem tudo que hoje é mito sempre foi verdade um dia. As semelhanças são muitas. Temos sempre a presença da água destruidora, seja em forma de chuva, maremoto ou enchentes de lagos e rios; um protagonista abençoado por deus; um final plausível; o repovoamento de terra e com um recado: “seja bom, pois os bons terão a graça divina”.
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