Por Pe. Fábio Pinheiro Bezerra, administrador da Paróquia de Nísia Floresta.
Viajar para conhecer outros espaços culturais e buscar novos saberes, ampliando, assim, nosso olhar para o novo, é sempre motivo de alegria interior. E poder, nessa travessia, apreciar o religioso e cultural, trata-se de uma sensação que não se pode definir com palavras, mas somente sentir. A viagem à Europa me proporcionou: o inusitado, o original, o autêntico, tempo de conquistas, de fazer novas amizades. Essas e outras reflexões povoaram minha mente nos últimos dias de férias vividos no velho mundo. Um presente cheio de graças proporcionado por uma generosa doação e premiada passagem à Europa, para ser mais específico, a Itália, Espanha e Portugal.
O “ir” gerou, em mim, uma inquietude. Esse tipo de sentimento que sente cada um de nós, quando se viajamos seja lá para qual lugar for. Viajar tem sabor de aventura! Aventura pelo prazer de compartilhar com nossos irmãos aquilo que é vivido na plenitude por cada país com sua cultura. Atravessar o Atlântico e pousar em terras distantes muda o nosso ritmo de vida, horários, clima, estação, fazendo-nos passar do corriqueiro para o “novo”.
A oportunidade de conhecer lugares onde o catolicismo cristão aflorou foi uma dádiva divina. Estar no chão onde pisou e morreu o príncipe dos apóstolos, Pedro, fez-me viajar no pensamento, buscando reconstituir aquele período celeste. E como foi radical o “sim” sem reservas dos primeiros cristãos. Quantos homens e mulheres entregaram as suas vidas por causa do Cristo, a tal ponto de derramar o sangue para que a Igreja seguisse a sua vocação em perpetuar a missão de Cristo no mundo. O ato de visitar as Basílicas que presidiram concílios importantíssimos para a história da Igreja e contemplar as estruturas físicas de monumentos tão majestosos, magníficos em beleza e arte, é uma experiência única. Estar na Basílica de São Pedro, tão próximo às obras Pietà de Michelangelo, obras como o baldaquino e a Cátedra de São Pedro do artista Gian Lorenzo Bernini, são graças irrepetíveis. Sem falar no túmulo de São Pedro, que não resisti, mas senti no dever de beijar aquele chão. Nunca imaginei sair da minha terrinha de Santa Cruz, para navegar por lugares tão apoteóticos. Louvado seja Deus por isso!
Ainda mais, viver o dia solene de São Pedro e São Paulo em Roma, junto do legítimo sucessor de Pedro, aquele que reina gloriosamente e ao mesmo tempo tão simples, ainda me lembro das palavras do Papa na homília: “A Igreja não é uma comunidade de seres perfeitos, mas de pecadores que se devem reconhecer necessitados do amor de Deus, necessitados de ser purificados através da Cruz de Jesus Cristo.” Essas reflexões ficaram marcadas em minha memória.
Encontrar no lugar onde a Virgem de Fátima apareceu a 13 de maio de 1917, em Portugal. Uma epifania. Foi análogo a um sonho, poder pisar no solo onde a Virgem disse aos pastorinhos “rezem o terço todos os dias para alcançar a salvação e a paz”. Nesta ultima vez, uma graça particular pude ouvir, a mensagem de Fátima com mais nitidez e desejoso de transmiti-la. A “Senhora mais brilhante que o sol” parece não ter voltado ao céu, ela continua lá a nos olhar e a nos perguntar: “Quereis oferecer-vos a Deus”. E também a nos alertar: Então te prepara para o sofrimento, porém não te deixarei…estarei sempre contigo, disse Nossa Senhora a Lúcia.
A capelinha das aparições, o lugar exato em que Nossa Senhora apareceu aos pastorzinhos, é um lugar místico. Ali se vive uma atmosfera mariana, que nos quer conduzir a Jesus. E esse é o papel da Mãe e de tudo quanto se contempla a sua ternura, nos conduzir ao Seu amado Filho Jesus.
Reviver o Milagre Eucarístico de Santarém em Portugal, estando a poucos centímetros do relicário que acolhe o Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo. A história conta que, em Santarém por volta do ano 1247 ou 1266, hoje cidade, e então vila de Portugal, vivia uma pobre mulher a quem o marido muito ofendia, andando desencaminhado com outra. Cansada de sofrer, foi pedir a uma bruxa judia que, com os seus feitiços, desse fim à sua triste sorte. Prometeu-lhe a esta remédio eficaz, para quem necessitava de uma Hóstia Consagrada. Depois de naturais hesitações, a mulher consentiu no sacrilégio. Foi à Igreja de Santo Estêvão, confessou-se e pediu comunhão. Recebida a sagrada partícula, com cautela, tirou-a da boca, embrulhando-a no véu. Saiu logo da igreja e encaminhou-se à casa da feiticeira. Sem que ela notasse, o véu começou a escorrer sangue. Visto o fenômeno por várias pessoas, perguntaram que ferimento era aquele que tanto sangue fazia jorrar. Confusa ao extremo, a mulher correu logo para casa e encerrou a Hóstia miraculosa numa de suas arcas.
À tarde, voltou o marido. Alta noite, acordam os dois e vêem a casa toda resplandecente. Da arca, saíam misteriosos raios de luz. Inteirado, o homem do ato pecaminoso da mulher, passaram de joelhos o resto da noite, em adoração. Mal rompeu o dia, foi o pároco informado do prodígio sobrenatural. Espalhada a notícia, meia Santarém acorreu pressurosa a contemplar o milagre. A Sagrada Partícula foi, então, levada processionalmente para a Igreja de Santo Estêvão. Lá ficou conservada dentro de uma custódia feita de cera. Passado algum tempo, ao abrir o sacrário para expô-la à adoração dos fiéis, como era costume, a cera feita foi encontrada aos pedaços. Espantados, mirou-se a Sagrada Partícula encerrada numa âmbula de cristal, miraculosamente aparecida. A pequena âmbula foi colocada em uma custódia de prata dourada, lugar onde ainda hoje se encontra. Não há como estar nesses lugares sagrados sem evocar na memória fatos importantes que ocorreram nesses espaços. Neste lugar, pude ainda mais reconhecer que sem a Eucaristia sou um vão a existir, apenas um homem sem razão de ser. Obrigado Deus por esta Igreja, por nos deixar o memorial que atualiza todo o mistério de amor.
Na verdade, uma viagem por ambientes que são parte da história do Cristianismo não evita você esquecer tudo, porém faz você se libertar um pouco da rotina. No entanto, mesmo com toda essa magia divina, quebrar a rotina foi um pouco duro para mim, senti falta do corre-corre, das missas, do povo, de tudo que a vida me proporciona para estar em Nísia Floresta, principalmente das pessoas. Viajar foi, pois, ao mesmo tempo, dias de enriquecimento religioso e cultural, pórem de muitas saudades da minha missão paroquial.
Uma experiência onde se vivencia o novo, a língua, a cultura, cada coisa com seu valor, no entanto, tudo nos deixa incomodado e inquieto. Foram dias, certamente, de muito crescimento espiritual e cultural, todavia uma coisa eu aprendi “Viajar é muito bom, mas voltar é bem melhor”. Obrigado a todos que rezaram, viajaram e compartilharam comigo essa viagem de cultual e religiosa através de fotos pelo Facebook.
Deus os abençoe hoje e sempre!
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