[ARTIGO] O VATICANO II E A EDUCAÇÃO

Foto: Reprodução/Facebook

O Concílio Vaticano II é o paradigma do pensar e do agir pastoral da Igreja para os nossos tempos. A sua letra e o seu espírito não estão superados. Há muito a ser recepcionado dos seus ensinamentos e propostas. O Papa Francisco é um sinal visível e testemunhal das proposições daquele grande acontecimento sinodal. A ênfase dada à conversão missionária de todas as estruturas da Igreja e à prática do estilo sinodal tem suas bases no conjunto da engenharia conciliar. A justa hermenêutica – Bento XVI – nos proporciona essa acolhida eclesial. Nesta linha, somos chamados a tratar do tema da educação no Concílio. Podemos abordá-lo, tendo em vista o capítulo segundo da parte dois da Gaudium et Spes, que trata da “reta promoção da cultura”. Sobre esta, afirma a constituição: “A palavra ‘cultura’ indica, em geral, todas as coisas por meio das quais o homem apura e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por dominar, pelo estudo e pelo trabalho, o próprio mundo; torna mais humana, com o progresso dos costumes e das instituições, a vida social, quer na família quer na comunidade civil; e, finalmente, no decorrer do tempo, exprime, comunica aos outros e conserva nas suas obras, para que sejam de proveito a muitos e até à inteira humanidade, as suas grandes experiências espirituais e as suas aspirações” (cf. GS, 53).  A educação, pensada a partir do Concílio e, com este, na tradição da Igreja, deve ser pensada com essa consideração de que a cultura abarca todos os elementos do cultivo do humano integral e integrado.

O conciliares continuam a tratar do tema, mais especificamente, afirmando que a ‘educação’ torna “os homens mais plenamente conscientes da própria dignidade e do próprio dever, desejosos por tomar parte cada vez mais ativamente na vida social , sobretudo, na vida econômica e política; dos admiráveis progressos da técnica e da investigação científica e dos novos meios de comunicação social, tendo mais tempo livre, fazendo com que consigam mais facilmente a cultura intelectual e moral e mutuamente se aperfeiçoem, com laços de união mais estreitos quer com os grupos quer mesmo com os povos” (cf. GE, proêmio). Por isso, bem ancorados na histórica relação entre a fé e a razão, que sempre fez parte da construção identitária da própria vida da Igreja, os padres conciliares apresentam uma concepção condizente com os anseios antropológicos que florescem na modernidade e lançam uma palavra de reconhecimento da educação para que o processo civilizatório não pense o processo educativo ao âmbito tecnicista e imanentista, que limita a fins materialistas o papel da cultura e da educação. Na trilha do Concílio, devemos afirmar que “todos os homens, de qualquer estirpe, condição e idade, visto gozarem da dignidade de pessoa, têm direito inalienável a uma educação correspondente ao próprio fim, acomodada à própria índole, sexo, cultura e tradições pátrias, e, ao mesmo tempo, aberta ao consórcio fraterno com os outros povos para favorecer a verdadeira unidade e paz na terra. A verdadeira educação, porém, pretende a formação da pessoa humana em ordem ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades de que o homem é membro e em cujas responsabilidades, uma vez adulto, tomará parte” (cf. GE, 1).

Por fim, chamo em causa a proposta do Pontífice acerca do “Pacto Educativo Global”. Temos que explorar essa convocação de Francisco para que firmemos alianças entre todos os sujeitos sociais, através das instituições que são canais de representatividade das vontades e liberdades de cada povo, para que juntos trabalhemos por uma ‘sinfonia da educação’ em favor de todas as pessoas, especialmente daquelas que estão nas periferias geográficas e existenciais dos nossos tempos; sofrendo tantas situações de abandono e negação de sua dignidade. O Pacto Educativo, segundo Francisco, visa “reavivar o compromisso para e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de ouvir com paciência, de diálogo construtivo e de compreensão mútua”. Continua ele afirmando que “trata-se de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar a fragmentação e a oposição e reconstruir o tecido das relações para uma humanidade mais fraterna” (cf. Pacto Educ. Global. Vademecum, pág. 3). No estado do Rio Grande do Norte e no nosso imenso e complexo Brasil, podemos e devemos fazer essas parcerias para promover pactos educativos em favor do bem comum e da justiça social. Assim o seja!

Por Padre Matias Soares / Pároco da Paróquia de Santo Afonso em Mirassol – Natal

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