O número de cidades sem agências bancárias no Rio Grande Norte continua crescendo. Se em 2016 eram contabilizadas 223 unidades bancárias físicas para realizar presencialmente operações e pagamentos, em 2021 esse número caiu para 187, segundo as estatísticas de agências e postos do Banco Central (BC). A digitalização dos serviços bancários, aliado à pandemia da Covid-19, crise econômica, entre outros motivos, deram impulso ao movimento de fechamento de agências bancárias não apenas no estado, mas em todo o Brasil.
Ainda de acordo com dados do Banco Central, em 2021, o Rio Grande do Norte registrou o menor número de agências de toda a década. Em 2012, para efeito de comparação, eram 210 unidades.
Além disso, desde 2019, 45 municípios não têm qualquer serviço bancário, segundo a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN).
A maior parte da ausência de agências ou de correspondentes bancários é sentida nas cidades do interior do estado. “O fechamento de agências e correspondentes bancários traz severos impactos para a população e principalmente para as economias dos municípios. Se formos pensar que esses estabelecimentos, quando abertos geram empregos para a população local, em termos do comércio imediatamente próximos a essas agências, pensando-se também na possibilidade dos funcionários que trabalham nos municípios que podem ser munícipes, a partir do momento que fecham, tem o deslocamento para outras cidades e os impactos econômicos se dão na esfera direta e indireta”, avalia o administrador e especialista na área de finanças, Henrique Clementino de Souza.
Ele pontua que, determinados estabelecimentos comerciais podem viver de atividades direcionadas aos serviços que os bancos ou correspondentes prestavam até serem fechados. “E daí, vai consequentemente gerar alguns efeitos relacionados a fechamento de postos de trabalho, desaquecimento da economia local com redução dos negócios estabelecidos em função do fechamento dessas agências, circulação de moeda menor, arrecadação de imposto impactada, visibilidade menor do município”, comenta o especialista.
Sem agência no município, o usuário segue para o mais próximo que tenha o serviço disponível fazendo com que ele também faça uso de produtos e serviços dessa cidade. Os aumentos de custos da população é outra consequência.
“Nesse aspecto, temos uma situação toda desfavorável com maior deslocamento e custo de locomoção para outros municípios para fazer suas transações”, pontua Henrique Clementino.
Uma das razões para que as agências fechem está relacionada à insegurança. Entre assaltos e explosões a bancos e caixas eletrônicos consumados e tentativas foram registradas 240 ocorrências desde 2012 até hoje. Em algumas cidades, onde o crime foi concluído, não houve reabertura dos estabelecimentos. A partir de 2019, essas ocorrências reduziram consideravelmente ficando na média de 1 caso consumado e 5 tentativas por ano.
“A atmosfera de insegurança leva as instituições a não mais abrirem postos em se tratando principalmente em algumas regiões com efetivo policial reduzido e por isso a não investirem na abertura de novas instalações”, conclui o especialista financeiro, Henrique Clementino.
BANCO24HORAS LEVA “SOLUÇÃO MÓVEL”
Em meio à fuga de agências bancárias dos municípios, o Banco24Horas iniciou o projeto de Solução Móvel levando caixas eletrônicos instalados em caminhões a 10 cidades do Nordeste com mais de 90 tipos de transações financeiras em 2021.
No Rio Grande do Norte o caminhão se encontra no município de Baia Formosa (RN) até o próximo dia 4 de abril e depois seguirá para Itapiúna e Caridade, ambos no Ceará. Antes disso, passou em 2021 passou pelas cidades potiguares Arez, Vera Cruz, São José do Campestre, São Tomé e Maxaranguape. Em 2020, a solução esteve em 12 cidades paulistas e mineiras. Em 2021, a região Nordeste foi a escolhida para a ação e durante este ano, passará por outros municípios nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Bahia.
“Neste ano, continuaremos percorrendo o Nordeste, levando os serviços e as soluções disponíveis nos caixas eletrônicos do Banco24Horas, de forma rápida e prática, a lugares mais distantes, pois o caminhão nos dá a mobilidade necessária para promover a inclusão dessas localidades”, informa Ariovaldo Ribeiro, superintendente de autoatendimento da da TecBan, gestora do Banco24Horas.
Ele conta que a iniciativa, lançada em meados de 2019, tem como objetivo facilitar o acesso de moradores e visitantes de cidades em regiões remotas de todo o país. Os caixas eletrônicos multibanco funcionam em caminhões identificados com a marca do Banco24Horas, cuja infraestrutura conta com gerador de energia e dispositivos que garantem a segurança dos equipamentos.
Em todo o Brasil, mais de 24 mil Banco24Horas podem ser encontrados em locais como supermercados, padarias, shoppings e postos de gasolina e no Rio Grande do Norte é um das soluções para municípios que não contam com agências. Por meio de suas soluções financeiras, os equipamentos proporcionam autonomia às pessoas de mais de 150 instituições, movimentando a economia local e nacional. Os caixas eletrônicos funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, mas estão disponíveis conforme o horário de funcionamento dos estabelecimentos onde estão instalados.
DIGITALIZAÇÃO AMPLIA FECHAMENTO DE AGÊNCIAS
Ao longo dos últimos anos, os bancos aumentaram os seus investimentos em tecnologia como forma de acompanhar a aceleração da digitalização de seus serviços e de seu modo de trabalhar, com mais facilidade, conveniência e segurança aos consumidores. Apenas entre 2019 e 2020, os investimentos passaram de R$ 23,9 bilhões para R$ 25,7 bilhões, de acordo com dados da Pesquisa de Tecnologia Bancária 2021 FEBRABAN/ Deloitte.
Do ponto de vista da modernização e praticidade, esse caminho é benéfico para o usuário, porém, também traz dificuldade para aquele grupo que ainda não manuseia com facilidade ou tem acesso a essa tecnologia. “O fato de termos muitas pessoas humildes, com pouca instrução, que não têm acesso ou conhecimento com de tecnologia, nem acesso a informática, essa questão digital acaba sendo um fator problema quando não se tem uma agência física”, destaca o administrador e especialista na área de finanças, Henrique Clementino de Souza.
A Febraban diz que entre 2016 e 2020, os meios digitais passaram de 52% do total para 62% em 2019 e 67% em 2020. No celular, o volume passou de 43% para 51% entre 2019 e 2020. Segundo a entidade, a participação das transações em agências bancárias vêm caindo nos últimos anos, de 9% em 2016 para 3% em 2020. No período de isolamento social, a utilização dos meios digitais, como mobile banking e internet banking teve grande expansão, consolidando essas plataformas como majoritárias na preferência dos consumidores brasileiros.
Mesmo assim, o especialista ressalta que o uso mais intensivo das tecnologias, em se tratando de aplicativos, nem sempre chega a todas as pessoas, visto que há o público que tem dificuldade de conexão e acesso à internet. Além disso, ele frisa que há também o interesse em reduzir custos por parte das instituições bancárias. “Vemos desinvestimentos das instituições em se tratando do atendimento presencial, o que leva as pessoas a buscarem os serviços digitais. Inevitavelmente o fator tecnológico também está direcionado ao fator econômico das instituições em não investir em máquinas e pessoal para atendimento físico. Os municípios acabam sendo impactados, especialmente para os que não têm situação econômica mais favorável em termos de resultados negativos com relação a essas dimensões”, conclui o especialista.
Por Cláudio Oliveira / Tribuna do Norte
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