Embarcação à deriva com seis africanos encalha na Barra de Tabatinga

Por Luiz Freitas
Diário de Natal

Depois de 35 dias à deriva em alto mar, seis tripulantes de um barco pesqueiro nigeriano conseguiram desembarcar na noite de sábado na praia de Búzios, litoral sul do estado, após a embarcação, prefixo LA 263, encalhar no local. Os nigerianos Franklin, 40, Francis, 23, Charles, 22, Indian, 23, Leandro, 24, e Willians, saíram da antiga capital da Nigéria, Lagos, há mais de um mês para realizar pesca em alto mar com um barco da empresa Mide. Com problemas no motor central e no gerador de energia, eles ficaram a deriva, sem eletricidade ou qualquer tipo de comunição. Foram levados ao sabor do vento, vindo a encalhar no Brasil, uma viagem de cerca de 6 mil quilômetros.

Já em terra firme, os nigerianos estão hospedados na casa do comerciante Eugênio Patriota, dono de uma barraca na Lagoa de Arituba, na praia de Tabatinga, que se dispôs a ajudá-los. Apesar das dificuldades, aparentam estar num bom estado de saúde. Charles chegou a ser hospitalizado. Ao verem o continente à vista, mas sem meios de conduzir o barco, ele foi tentar acionar o motor de partida e acabou caindo no mar, ingerindo bastante água. O navio ficou à solta no mar, na região da praia de Tabatinga, mas sem condições de chegar até a beira da praia para que eles pudessem desembarcar.

Neste domingo, finalmente, os nigerianos conseguiram se comunicar com a empresa pesqueira na África, que dava o navio como desaparecido, por meio de uma lan house em Tabatinga. Eles estão mantendo contato por telefone e pela Internet, mas reclamam não ter dinheiro para ligarem para os seus familiares na Nigéria, que já teriam sido avisados pela empresa.

“Queremos voltar para a Nigéria. Estamos aqui aguardando algum contato da empresa com as autoridades brasileiras, mas ninguém ainda nos procurou”, conta Francis. Eles relatam que além da ajuda no momento do resgate, toda a assistência está sendo provida por Eugênio. Os nigerianos contam que não tinham a menor ideia para onde estavam sendo levados pelo vento, uma vez que a falta de eletricidade impedia o uso do rádio comunicador e do aparelho GPS. “Tivemos um problema com o motor central ainda na costa da África e depois perdemos nosso gerador. Içamos as velas e o navio foi sendo levado pelo vento”, afirma Franklin, o chefe da embarcação. Eugênio Patriota reclamou da falta de atenção das autoridades para o caso. “Eu sozinho estou providenciando alimentação, estadia, roupas. Não tenho nenhuma assistência. Eles não têm nada. Ficaram à deriva todo esse tempo. Estavam aqui na costa há seis dias pedindo ajuda e ninguém os socorreu. Inclusive a Capitania dos Portos havia sido avisada que o navio estava por aqui e não veio averiguar esse barco”.

RESGATE

Ao encalharem na praia, por volta das 23h de sábado, os nigerianos foram resgatados por Lenildo Alves, o Banjo, que tem uma barraca próxima ao local do encalhe. “O meu filho disse que tinha um surfista morto na praia. Fui lá olhar e encontrei o primeiro deles na areia, junto a um caiaque. Depois veio um bote improvisado com mais quatro deles. Foi aí que eu vi o barco encalhado na praia. O sexto pulou do barco mas teve que ser ajudado pelos outros”, relata. Falando palavras em inglês eles pediam ajuda ao barraqueiro. Em seguida, Banjo os levou para um apart hotel onde os africanos receberam alimentação e deram as primeiras informações da sua peregrinação. Durante todo o percurso, a única alimentação possível foi peixe e arroz, além do estoque de água potável.

Uma das hóspedes que ajudaram os africanos, Miriam Oliveira, diz que ligou para todas as autoridades competentes para comunicar o fato, mas que por ser um final de semana, durante a madrugada, não houve retorno. “Achei um descaso enorme isso. Prestamos ajudar porque isso pode acontecer com qualquer um, mas as autoridades não fizeram seu papel”. Neste domingo, o navio encalhado era a grande atração na praia, levando muitos curiosos ao local. Curiosidade que extrapolou os limites.

Os moradores José Pereira e Antônio Oliveira, que acompanharam o resgate e estavam vendo o movimento na praia, relatam que logo pela manhã, quando o navio estava vazio, várias pessoas entraram na embarcação para saqueá-la. “Fiquei bastante envergonhado com isso. Não bastando o sofrimento dessas pessoas, ainda entraram lá e levaram os objetos do navio, inclusive o rádio de comunicação”, afirma Pereira. Banjo relata que o navio dos nigerianos estava à deriva na região de Tabatinga há seis dias. “A gente estava vendo o navio por aqui, mas pensamos que ele estava pescando, até que o mar o trouxe para cá. Mas ele tem que ser removido porque se a maré subir muito, leva ele de novo”. Ele conta que o navio encalhou por duas vezes. “Quando eu achei o pessoal, o navio havia parado uns 50 metros à frente, mas a maré encheu mais e ele parou aí.

AUTORIDADES

A Capitania dos Portos já abriu um inquérito administrativo para investigar as causas do encalhe, e uma perícia deve ser feita hoje. A Polícia Federal no Rio Grande do Norte também foi acionada e designou o delegado Christian Wurster para o caso. A partir desta segunda, os ocupantes deverão ser ouvidos e investigados pela PF.

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