CONVERSÃO E CONVERSÕES

Por Pe. José Lenilson de Morais, adm. Paroquial de Nísia Floresta.

Em tempos de muitas conversões é interessante repensarmos o sentido da palavra “conversão” e suas implicações éticas e sociais. No Dicionário da Academia Brasileira de Letras, por exemplo, o verbete vem como: “mudança de religião, de partido político, de maneira de viver”; “transmutação em outra coisa”; “mudança de direção ou de sentido”; “troca da moeda de um país pela de outro”. Na Sagrada Escritura, principalmente nos escritos dos Profetas, aparecem várias exortações à conversão, quase sempre como um retorno à Aliança do Sinai.

Uma descrição bem acentuada do sentido da conversão nos vem do grande Isaías, no capítulo I do livro que traz o seu nome. É mais do que obvio que, para ele, a conversão não significa simplesmente mudar de grupo, assembleia, religião ou partido. Isaías denuncia até mesmo o culto religioso que não gerava transformação de vida: a exterioridade do culto, as solenidade que maquiavam a iniquidade, a celebração que não “endireitava a direção”. Daí o apelo urgente de Isaías: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai da minha vista as injustiças que praticais. Parai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto, defendei o direito do oprimido…” (I, I6-17). Na Nova Aliança, João Batista, em sua missão de preparar o novo e definitivo “pacto” de Deus com a humanidade, exige também a conversão, mas não como o simples abandono da religião judaica; ele pede uma mudança de atitude para a adesão à nova condição espiritual: “produzi fruto que mostre a vossa conversão” (Mt 3, 8). O Salvador da humanidade, nosso amado Senhor Jesus Cristo, começa sua missão convidando também à conversão: “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

Um grandioso exemplo de conversão autentica é, sem dúvida, aquela ocorrida com Paulo de Tarso. Judeu fervoro que, em nome de sua fé, chegou até mesmo a perseguir os primeiros cristãos, pensando ele de estar fazendo um grande bem à sua religião, viu-se encurralado quando, no caminho de Damasco, depara-se com o Cristo que lhe questiona: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At. 9, 4). Todo dia 25 de janeiro, a Igreja Católica celebra sua conversão. Caído, confuso, perplexo, mas iluminado, este homem, que passa a ser chamado de Paulo, pouco a pouco vai sendo transformado pelo Espírito Santo no grande Apóstolo dos Gentios. Percorre inúmeras cidades e vilas em viagens dignas de filmes de aventura para proclamar a Boa-Nova do Cristo morto e ressuscitado até derramar seu sangue, juntamente com Pedro, na cidade de Roma, que, por isto, tornou-se o centro de irradiação do cristianismo, mais especificamente da Igreja Católica. Existem inúmeros outros casos de admiráveis conversões como a de Agostinho de Hipona, Francisco de Assis, Bento de Núrcia, Teresa de Ávila, Cardeal Newman e assim por diante. Cada um dos citados tem uma história diferente; as conversões vão desde a mudança de uma vida imersa no pecado até a renovação dos ideais cristãos, nem sempre sendo necessário o abandono da comunidade religiosa a qual se pertence. Na verdade, no seio da Igreja Católica, os grandes reformadores foram aqueles que, permanecendo nela, lutaram pela sua coerência e retorno às fontes do cristianismo. É por isto que o Concilio Vaticano II usou a expressão “Ecclesia semper reformanda”. Que bonito admitir isto!

A conversão pessoal e comunitária nunca foi um ato isolado, mas uma atitude de permanente busca de purificação e autenticidade em sintonia com os apelos do Mestre, pois “quando nós amamos como Ele ama, somos puros; quando queremos o que Ele quer, somos livres” (Thomas Merton, A vida silenciosa, p.29).

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