Aumenta número de acidentes com embarcações entre a costa do RN e da Bahia

Raimundo Rodrigues ainda lembra, com assombro, do apito do navio mercante. “Era um som forte. Não sei a distância, mas era muito perto.” E se Raimundo, 54 anos, diz que era perto, era perto. Afinal, o homem sobrevive do mar desde sempre e sabe quando uma embarcação está prestes a passar por cima de outra menor. Naquela noite, no início de fevereiro, o pescador e outros três tripulantes, a bordo de um barco a motor com 7m de comprimento, estavam a 20km da costa da capital do Rio Grande do Norte. Um ponto distante para embarcações de pesca artesanal, na rota dos grandes navios comerciais que cruzam os mares brasileiros. Ali, o medo de Raimundo e de qualquer pescador se justifica, afinal a morte sempre passa por perto.

Riscos de colisão, que deveriam ser uma casualidade, são cada vez mais comuns no litoral nordestino, onde pesquisadores acreditam que a poluição, a pesca predatória e a ocupação desordenada da região têm reduzido ainda mais a quantidade de espécies de peixes na costa. Sem sinalização adequada e equipamentos, como um GPS, barcos como o tripulado por Raimundo chegam à borda da plataforma continental, que, a partir de Natal, tem menos de 25km de largura.

Naquele ponto, na região conhecida por paredes ou talude, a profundidade cai de 80m a 500m rapidamente. Como as traineiras movidas a óleo diesel têm menos de 10m de comprimento, acabam não aparecendo nos radares dos navios. À noite, o risco aumenta.”A pesca artesanal no país não tem se desenvolvido. Com as áreas de peixes cada vez mais exauridas, as embarcações precárias correm riscos desnecessários”, diz Jorge Lins, professor de biologia marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “O pescador tem nível básico e acaba sem acesso a financiamentos para melhorar a atividade pesqueira”, completa.

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