A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Por Pe. Matias Soares, Pároco de São José de Mipibu.

1959500_1575739062679680_8648090753387046201_nExiste uma afirmação universal que embasa este princípio: A pessoa humana é um centro de tudo que existe. Todas as correntes antropológicas e demais campos do conhecimento reconhecem a centralidade do humano na criação. Sem este ponto de partida, não há possibilidade prática e epistemológica de compreensão deste fundamento que é o diferencial para que a discussão sobre uma ética universal seja elaborada.

No ocidente, o paradigma que mais influenciou na tratativa foi o teológico. Ele concebe o ser humano como alguém que é criado à imagem e semelhança de Deus (Cf. Gn 1,27). O dogma semítico já o define como quem tem vontade e inteligência. A partir da compreensão de quem é Deus, é definido quem é a pessoa humana. Pelos atributos divinos são afirmados os humanos que concederão à liberdade a maior característica de dignidade que existe desde a concepção do ser humano. O cristianismo toma a mesma antropologia. Afirma que Deus cria porque ama. A dignidade da pessoa é reconhecida quando ela é objeto de amor e sujeito do amor. Jesus Cristo se revela para restabelecer essa dignidade que decaiu por causa do mau uso da liberdade. A desobediência ao amor descaracteriza o que lhe confere dignidade. Vicia sua vontade e obscurece sua inteligência. O que fora afirmado à luz do que é divino, passa a ser dito sobre o que não é divino. Quem é o homem para que dele o Senhor se ocupe? Pergunta o salmista (Sl 8,5). Ele é aquele que tem uma dignidade universal e filial. Esta não é relativa, nem circunstanciada. Ela é absoluta.

Outra concepção que terá muita influência é a que afirma que a pessoa é ser individual de natureza racional. Esta formulação é filosófica. Ela parte do mesmo atributo racional já existente na teologia. Este é um ponto de encontro transversal. Entra uma antropologia do corpo que será importante para o sentido da dignidade para a tendência materialista e também metafísica. Este conceito permitirá interpretações bipolares, como será constatado no tempo. O corpo garante individualidade ao ser humano. Sua dignidade não é determinada por uma abertura à integração, mas por determinação visível e imediata. Não considera a mediação transcendental e relacional. A partir do Iluminismo a dignidade da pessoa humana tem sua referência enfatizada pelo fortalecimento do Estado como sujeito de direitos individuais e coletivos. O modelo político ganha maior importância. O que é reconhecido é o positivado.

Atualmente, por uma via relacional, se considera um reconhecimento da dignidade humana pela via do encontro. Existe uma filosofia do encontro. O outro é reconhecido e tem sua dignidade percebida pelo face a face, que nos leva à compreensão da dignidade que é revelada. A verdade sobre o outro não é nem dogmatizada, nem relativizada. Ela acontece quando o eu se depara com o tu e o nome do outro. Ela se deixa ver totalmente. De modo que, renegar o outro é não aceitar a minha própria condição humana. Não posso torná-lo meio, porque eu também não sou meio, mas fim de todas as ações humanas e de toda a realidade criada. A perspectiva final é a beleza e a totalidade da vida. Quem reconhece a dignidade do outro, universaliza a primazia da vida e da irrenunciável dignidade da pessoa humana, desde a sua concepção até a sua morte natural.

Por fim, a questão sobre a dignidade da pessoa dependerá da base epistemológica sobre a qual se assenta a concepção de ser humano que cada um tem. No contemporâneo, isto é notório e não pode deixar de ser considerado. Contudo, o que permanece é o fato de que quanto mais conhecemos a verdade sobre o humano, mais valorizamos e aprimoramos a importância da sua dignidade e quem é o verdadeiro Senhor dela. Assim o seja!

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