Por Agripino Junior, do Nísia Digital.
Defender uma sociedade mais justa faz parte da missão da Igreja Católica, embora muitas vezes isso não seja posto em prática. Em São José de Mipibu, pode-se afirmar que essa defesa realmente acontece, doa a quem doer. Uma prova disso foi a proposição feita pela Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim à Câmara Municipal, em promover uma discussão acerca do tema da Campanha da Fraternidade 2014: Fraternidade e Tráfico Humano, envolvendo outras instituições da sociedade civil organizada.
A audiência foi realizada na noite de quinta-feira, dia 27, na Casa Legislativa de Mipibu, tendo início por volta das 19h30. Compuseram a mesa: O Padre Matias Soares, Pároco de São José; o presidente da CMSJM, vereador Figueiredo Varela; a juíza de direito, titular da Comarca de Mipibu, Mirian Jácome; o Diácono Francisco Adilson, Assessor do Vicariato Episcopal para as Instituições Sociais da Arquidiocese de Natal; o professor de direito, vereador da cidade de Natal e delegado da Polícia Civil, Heráclito Noé, e o deputado estadual, Hermano Morais.
O primeiro a falar foi o Diácono Adilson, que apresentou alguns dados levantados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade responsável por organizar e promover a Campanha da Fraternidade, que teve origem na comunidade de Timbó, em Nísia Floresta. O religioso afirmou que a igreja tem feito seu papel em trazer temas importantes para uma discussão à nível nacional, tentando trabalhar em projetos para amenizar alguns problemas abordados nas campanhas.
A juíza Mirian foi breve e falou um pouco sobre o lado criminal do tema abordado. Ela afirmou que “ainda não existe casos das diversas ramificações do tráfico humano em Mipibu”, justificando que o medo de denunciar pode fazer com que não haja denúncias oficiais. Ela parabenizou a iniciativa de se discutir sobre o tráfico e que espera que os casos possivelmente existentes venham à tona e o Poder Judiciário possa punir os responsáveis.
O delegado Heráclito fez uma explanação bem humorada, mas sem perder o senso crítico. Falou no enorme e complexo problema na violência do Rio Grande do Norte e que o tráfico humano é real. “Este tipo de crime está presente em nossa realidade. Cito como exemplo o caso do bairro Planalto, em Natal, onde cinco crianças foram traficadas”, afirmou o professor de direito. Em sua fala, destacou-se a seguinte máxima: “Não existe crime organizado sem a participação de agentes públicos”.
O presidente da casa, vereador Figueiredo, e o deputado estadual, Hermano Morais, também discursaram e com falas parecidas. Ambos afirmaram que é preciso que todos façam sua parte. Trabalhar contra o tráfico humano é dever do Poder Público, das igrejas e principalmente da população. Os políticos também afirmaram a importância da discussão direta com diversos setores da sociedade organizada e o povo de São José. O deputado afirmou que o mesmo aconteceu na Assembleia Legislativa.
O Padre Matias também se pronunciou e agradeceu pela Câmara atender o pedido da Paróquia na realização do debate. Ficou feliz pela presença da população. O sacerdote foi enfático ao afirmar que “o trabalho escravo existe na cidade, mas as vítimas muitas vezes não sabem disso”. Fez uma dura analogia com o termo “terras dos engenhos” – como é tratado o município – com os dias atuais (a questão do patrão e do escravo). Cobrou ações concretas do poder público para com os mais humildades e reafirmou que a igreja continuará fazendo seu papel em defender os mais fragilizados.
O momento também teve a participação de quase 100% da bancada de vereadores e foi acompanhada por dezenas de pessoas, até antes de se estender e começar a se tornar cansativa. A discussão foi tida como bastante positiva por aqueles que a promoveram. Agora é esperar atitudes concretas daqueles que detém o poder de executá-las, não esquecendo de cobrar caso isso não ocorra
A Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim está atuando na base. Mais de mil livretos com o material da campanha foi distribuído para serem utilizados em encontros e grupos de estudos que vem se reunindo regularmente, com o objetivo de instruir às pessoas em relação ao trabalho escravo, tráfico de órgãos, adoção ilegal e exploração sexual, subtemas da Campanha da Fraternidade 2014.
Confira a seguir alguns registros fotográficos feitos pelo Nísia Digital durante a audiência pública:
Fotos: Agripino Junior/Nísia Digital.
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