Por Cláudio Marques, professor e colunista do Nísia Digital.
Ao longo do século XIX, principalmente nas grandes cidades industriais da Europa e nos Estados Unidos da América, as pessoas viviam o desenfreado desenvolvimento capitalista, acompanhado de uma crescente produção industrial. Essa fase da Revolução Industrial é caracterizada pelo surgimento de várias invenções e descobertas que foram aplicadas à indústria, ao transporte e à comunicação.
Mediante a frenética mudança no modo de produção, houve a necessidade maior de mão – de- obra. Por isso, era comum ver em ambientes de fábricas uma grande quantidade de mulheres e crianças que, na maioria das vezes, superava o trabalho masculino adulto em uma proporção. “Nas fábricas de algodão, 56,25% do conjunto do pessoal era de mulheres; 69,5%, nas fábricas de lã, 70,5% nas fábricas de seda e 70,5% na fabricas de linho”.
Isso nada tem de glorioso para as mulheres, uma vez que as vantagens para os industriais (donos das fábricas) eram maiores, já que as mulheres recebiam um salário inferior aos dos homens.
O trabalho feminino era lucrativo para os industriais e visto por Friedrich Engels como desagregador da família, “porque, quando a mulher passa cotidianamente 12 ou 13 horas na fábrica e o homem também trabalha aí ou em outro emprego, o que acontece às crianças? Crescem entregues a si próprias (…), os acidentes de que as crianças são vítimas por falta de vigilância”.
A mortalidade de crianças era comum até por falta de amamentação, uma vez que as mulheres voltavam à fábrica, muitas vezes, quatro ou três dias após o parto. Para isso, deixavam os filhos em casa e na hora das refeições (o que geralmente não era muito tempo), corriam para casa amamentavam e comiam um pouco. Lord Ashley relata declaração de uma operária:
M.H. de 20 anos tem duas crianças, a menor é um bebê e o mais velho toma conta da casa e do irmão; vai para a fábrica de manhã, pouco depois das 5 horas, e volta às 8 horas da noite. Durante o dia, o leite escorre-lhe dos seios a ponto de os vestidos se molharem.
A moralidade, também, era questionada e colocada à prova, pois a reunião de pessoas de sexos e idades diferentes na mesma fábrica era um convite à promiscuidade – interessante no texto que serviu de base para essa publicação, não é citada promiscuidade masculina como um “problema”.
Eram comuns encontros amorosos e fornicadores entre os funcionários, onde o industrial não intervia, salvo quando o escândalo era flagrado. Essas atitudes ditas imorais eram possíveis até em fábricas pequenas, “se a fábrica é pequena, a promiscuidade era maior e as ligações inevitáveis”.
Pais preferiam ver as filhas mendigando a deixá-las trabalharem em fábricas, pois “a maior parte das mulheres da vida estavam naquela situação por causa da permanência nas fábricas”. Uma operária do distrito de Manchester afirmou, sem medo de errar, que três em cada quatro jovens operárias dos 14 aos 20 anos já não eram mais virgens.
O mais chocante é o pensamento da época onde acontecia a servidão da fábrica, que conferia ao patrão ser o dono do “corpo e encantos” das suas operárias. Se o industrial desejasse usaria sua fábrica como seu próprio harém. Se a operária se negasse aos caprichos do seu patrão era ameaçada com a demissão, o que anulava em 90 ou 99% a resistência da parte das jovens.
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