Por Pe. José Lenilson de Morais, vigário paroquial de São José de Mipibu.
A questão da conversão pessoal e pastoral já entrou de modo decisivo – graças a conferencia de Aparecida – nas reflexões, aprofundamentos e planos de ação pastoral das dioceses e de muitas paróquias. Já que “estamos um pouco atrasados” (Papa Francisco ao CELAM em 28 de julho de 2013) haveremos de dar passos firmes e decisivos também no que se refere a prática administrativa e pastoral do Dízimo. Na Bíblia Sagrada, principalmente no Antigo Testamento, o Dízimo é a partilha alegre de parte da renda (Cf. Eclo 35, 11-12 – Bíblia de Jerusalém em todas as citações), um dever sagrado para com Deus em favor do Culto, dos seus ministros (Levitas) e dos necessitados (Gn 14, 20; Nm 18, 26; Dt 14,22-23).
Jesus Cristo não o aboliu o Dízimo, mas criticou o cumprimento rigoroso dos fariseus e escribas que exigiam e entregavam o dízimo (literalmente 10 %) de tudo, mas esqueciam a justiça, a misericórdia e a fidelidade; e Jesus concluiu: “importa praticar estas coisas – Dízimo – sem omitir aquelas – justiça, misericórdia, fidelidade” (Cf. Mt 23, 23). O Apóstolo Paulo fala do modo mais cristão de exercer a PARTILHA (belo nome para o dízimo): “Cada um dê como dispor seu coração, sem pena nem constrangimento, pois Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode cumular-vos de toda espécie de graças para que tenhais sempre e em tudo o necessário e vos fique algo de excedente para toda boa obra, conforme está escrito: ‘distribuiu, deu aos pobres. A sua justiça permanece para sempre’” (II Cor 6, 7-9).
Neste processo de conversão do “dízimo” e ao dízimo é urgente superar uma ideia de coleta de impostos, de taxas, de boleto bancário… e passar a uma compreensão de coresponsabilidade, livremente assumida, e sem constrangimento. É terrível ouvir um agente de pastoral dizer: “seu dízimo está atrasado”, “você não paga o dízimo a tantos meses. Vai colocar em dia?” Já não bastam os juros dos cartões, as ameaças do Serasa e assim por diante? Não se converte o coração pelo uso da força verbal, moralizante, vexatória, nem mesmo pela eficácia do maldito “marketing religioso”, mas pela força do testemunho e do acolhimento. Para nós católicos, o dízimo é um dever precedido por um convite, que assume uma dimensão de partilha em favor da evangelização, da missão, da caridade pastoral e da sustentação das estruturas necessárias a boa execução de ação da Igreja no mundo. Neste sentido, temos que rever e tomar decisões corajosas no que se refere ao emprego do dízimo. Costumamos dizer: “Nosso dízimo é muito pouco. Não podemos realizar nenhuma obra social sistemática e contínua”. Ou ainda: “não dá para dispensar as taxas de batismo, de casamento porque o dízimo ainda não cobre”. Meu Deus, quanta incoerência de nossa parte! Quantos investimos em mais e mais estruturas físicas, sofisticação de meios etc, e pomos uma barreira de taxas e emolumentos para os fiéis terem acesso ao que eles podem receber por direito. Não me refiro aqui àqueles “privilégios” de alguns que fazem questão de ocupar os padres com batismos, casamentos chiques e missas “particulares”. Contudo, por que não converter as estruturas eclesiais para que haja em toda sede paroquial: um dia no mês para casamentos sem taxas, batismos para os necessitados sem esta pergunta horrível: “quanto é o batismo?”. Isto também é “estrutura caduca”! Não seria necessário partilhar também nisto?
Se o dízimo é a partilha (da parte dos fiéis) deve ser, coerentemente, partilha justa, misericordiosa e fiel (Cf. Mt 23,23) da parte das estruturas pastorais da Igreja. No dia em que abrimos mais o caixa das dioceses e paróquias para fazer acontecer o codivisão em favor dos menos favorecidos de modo organizado na dimensão social do dízimo – ainda que se comece com apenas 1% da arrecadação – perceberemos, em pouco tempo, que também as mãos dos católicos se abrirão com mais largueza para doar o dízimo com alegria e de coração generoso. Então, acontecerá a tão sonhada conversão!
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