Por Rejane de Souza, do Nísia Digital.
A luta de Nísia Floresta por uma sociedade igualitária não ficou somente no plano das ideias, ela desenvolveu um trabalho singular como educadora e escritora no Rio de Janeiro Imperial. O seu pioneirismo se estendeu, também, para a fundação de um colégio para meninas, no nível dos melhores colégios masculinos da Corte. Sabe-se que a vida Nísia Floresta foi de travessia constante, análoga a do marinheiro, sempre acontecia algo em cada porto. Em 1832, a família fixa residência em Porto Alegre. No entanto, um ano após perde o esposo Augusto. E Nísia fica viúva aos vinte e três anos e passa a viver com os dois filhos, a mãe e duas irmãs na capital gaúcha. Ela permanece nesse lugar durante quatro anos. Além de lecionar em Porto Alegre, para manter aceso seu espírito revolucionário, mantém relação de amizade com Anita e Giuseppe Garibaldi. Porém quando, em 1835, estoura a Revolução Farroupilha, o clima de conflito na capital fica insustentável, fato que obriga Nísia a se mudar com a família novamente. O local escolhido é o Rio de Janeiro, onde a educadora funda o Colégio Augusto, dedicado à educação feminina.
Ela reflete: Por que a ciência nos é inútil? Porque somos excluídas dos cargos públicos; e porque somos excluídas dos cargos públicos? Porque não temos ciência […] Eu digo mais, não há ciência, nem cargo público no Estado, que as mulheres não sejam naturalmente próprias a preenchê-los tanto quanto os homens (FLORESTA, 1989, p. 52; 73). A criação do Colégio Augusto ocorreu em 1838, em sua recém-chegada à Corte. A instituição de ensino localizava-se, então, na Rua do Paço Imperial, a Rua Direita, centro da Capital Federal. Tratava-se de um currículo inovador que propunha uma pedagogia diferente das que vinham sendo adotadas em outros estabelecimentos de ensino. A educação feminina recebia como prática pedagógica o ensino de disciplinas que, naquele período, eram reservadas aos homens. O colégio permitia um aprendizado, voltado exclusivamente para a educação feminina, através de disciplinas como latim, francês, italiano e inglês, com suas respectivas gramáticas e literaturas; o estudo da Geografia e História do Brasil; a prática de Educação Física e a limitação do número de alunas por turma, como forma de garantir a qualidade da educação. D. Nísia Floresta Brasileira Augusta tem a honra de participar ao respeitável público que ela pretende abrir no dia 15 de fevereiro próximo, na rua Direita número 164, um colégio de educação para meninas, no qual, além de ler, escrever, contar, coser,bordar, marcar e tudo o mais que toca à educação doméstica de uma menina, ensinarse-á a gramática da língua nacional por um método fácil, o francês, o italiano, e os princípios mais gerais da geografia. Haverão igualmente neste colégio mestres de música e dança. Recebem-se alunas internas e externas. […] Todavia, não é de estranhar que as inovações educativas não tenham sido bem aceitas pela sociedade imperial. Por conta dessa ousadia em educar somente pessoas do sexo feminino através de áreas de conhecimentos inusitadas, Nísia Floresta sofreu preconceito da sociedade e a propagação de campanha contrária da imprensa carioca. Esta fazia duras críticas às propostas pedagógicas de seu colégio, no que se referia ao público contemplado e as disciplinas oferecidas. Na concepção da sociedade da época não havia motivo para dar à mulher uma educação semelhante à masculina, uma vez que os papéis sociais que ambos os gêneros desempenhavam eram bem diferentes. Para o período, bastava que a mulher fosse educada para desempenhar bem a função de esposa, mãe e dama da sociedade. Enquanto o homem deveria receber uma educação que lhe permitisse dominar os meios sociais, políticos e econômicos. Mas, felizmente, o desejo de Nísia Floresta era o de promover as mulheres através de uma educação mais transformadora, a fim de que as mesmas pudessem desenvolver as suas potencialidades intelectuais.
SÉRIE DE ARTIGOS EM COMEMORAÇÃO AOS 201 ANOS DE NÍSIA FLORESTA.
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