Por Cláudio Marques, professor e colunista do Nísia Digital.
Conta-se a lenda de que o chefe Aribó da tribo dos Paraguaçu tinha uma filha chamada Jacy. Era uma jovem índia formosa que encantava todos do lugar. A índia Jacy havia sido prometida em união ao filho do pajé Tupi, que pretendia levá-la o mais rápido possível ao casamento. No peito do jovem guerreiro Guaracy, da tribo Paraguaçu, brotou um sentimento por Jacy, que era compartilhado também pela mesma. Sem conter o sentimento, os jovens amantes se encontravam escondidos no meio da floresta, longe dos olhares do cacique e outros olhos curiosos, que pudessem delatar o idílio amoroso.
Nas competições dos jogos indígenas, o jovem Guaracy vencia todos os adversários com facilidade. Na caça, capturava os maiores veados, porcos e cotias. Na corrida, carregava os maiores pesos. Na lança, atingia os alvos com cirúrgica precisão. Com o arco e flecha, era insuperável.
A catita Jacy, adornada com penas e de corpo pintado em suas delicadas curvas com urucum, assistia, encantada, ao espetáculo do amante, de forma discreta, para não levantar suspeitas do amor que nutria por Guaracy.
Certa vez, Guaracy, ao se banhar junto com seus amigos índios, na boca da noite, foi atacado por uma ariranha, travando um violento e tenso combate. Por estar dentro da água, após arranhões e mordidas do terrível animal, o nosso herói matou-a com as mãos nuas.
Após este, episódio, orgulhoso por ter salvado os amigos, levou o animal morto colocou aos pés do chefe Aribó, para mostrar sua bravura e reclamou a mão da linda Jacy.
O cacique Aribó reconheceu o valor do notável índio, porém nada podia fazer pois, Jacy já havia comprometida a outro. A virgem Jacy, que espiava da oca, saiu em desespero e, com o coração amargurado de sofrimento do destino que não queria aceitar, foi para a mata, e em meio a solidão, pediu a Tupã que lhe livrasse de seu destino.
Quando viu cair do céu uma estrela cor de jade, próximo ao Rio Paraguaçu. Lá chegando, Jacy assistiu pairar sobre as águas escuras da laguna, Tupã, criador de tudo que existe. Sem hesitar, a graciosa tapuia pediu ao deus Tupã, que permitisse a ela sempre estar com Guaracy e viver em sua aldeia. Ele não aceitou seu pedido e Jacy desesperada pulou no Rio Paraguaçu. O grande deus Tupã apiedou-se do coração de Jacy e permitiu que seu espírito se unisse às águas do Paraguaçu. Dessa forma, Jacy sempre estaria próxima a sua tribo e poderia observar o jovem Guaracy sempre que o mesmo fosse banhar-se em suas águas.
Quando Guaracy e os demais da tribo perceberam que Jacy havia desaparecido, saíram à procura, todavia nada encontram, a não ser um colar de Jacy à beira do rio. Inconformado com o desaparecimento de Jacy, Guaracy passa seus dias a vagar solitário pela beira do Rio Paraguaçu, na impossível esperança de encontrar sua amada Jacy.
Em uma das noites de lua cheia, Guaracy como um penitente a beira do Rio Paraguaçu, ouve um canto triste. Era a voz de Jacy nas águas. Guaracy mergulhou e seguiu a voz de Jacy e não mais retornou. Assim uniu-se Guaracy e Jacy.
Glossário
Parguaçu significa em tupi “mar grande”. A palavra Papary significa “salto de peixe”. Outros estudiosos do tronco linguístico tupi/guarani não trazem um significado exato para a palavra Papary. Há quem diga ser a junção da língua tupi e portuguesa.
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