Por Cláudio Marques, professor, graduando em história e colunista do ND.
“Fragmentos da História” publicará, a partir desta data, uma série de textos que abordarão os mitos e lendas da região de Nísia Floresta. É do conhecimento de alguns estudiosos e pesquisadores do gênero que Nísia guarda rico potencial das histórias orais, que foram passadas de geração a geração. E por isso, as fontes dessas lendas e mitos são de pessoas que residem na região e guarda em suas memórias esse legado.
Entenda-se por mito, o elemento que busca explicar a realidade, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do homem por meio de deuses, semideuses e heróis. Enquanto, as lendas são estórias contadas por pessoas e transmitidas oralmente através dos tempos. Misturam fatos reais e históricos com acontecimentos que são frutos da fantasia. As lendas procuram dar explicação a acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Inaugura a série a lenda:
A Sereia de Camurupim
Conta-se que João Francisco, pescador praieiro, que morava na Praia de Camurupim, era o típico pescador artesanal, de tarrafa, vara, mangote, puçá, rede. Na verdade de todas as formas, Chico sabia pescar. Pelas manhãs e tardes, ele saía para pescar, a fim de alimentar seus seis filhos que o recente viúvo assumira. Muito religioso, vivia pedindo a Deus uma esposa para ajudá-lo na lida como seus filhos. Naquele período, as águas da maré batiam além o asfalto que hoje liga as praias. Com o passar dos dias, Chico viu que, além de pescar para o sustento, precisava também comercializar a pesca. Então, decidiu pescar também à noite. Ao chegar à noite, começou a pescaria sem obter o menor êxito. Quando ouviu uma canção suave e encantadora… Olhou em volta e nada vendo, voltou para sua pescaria.
João Francisco tornou a ouvir o doce som…
– Será possível…? De onde vem este som…?
Foi quando avistou, de longe, a silhueta de uma mulher, bem na “Boca da Barra”. E disse:
– Valha minha Nossa Senhora… – benzendo-se, assustado, pois não queria acreditar no que estava vendo.
Saiu correndo desesperado, imaginando:
– Eu devo estar trabalhando demais…
Na noite seguinte Chico, tornou a pescar e, novamente ouviu a melodia. Como desta vez, ele tinha levado a rede de pesca, foi se aproximando. Ficou embevecido com o som melódico que vinha de uma voz feminina. Sentada na Boca da Barra, a mulher mergulhou repentinamente e deixou transparecer a sua calda de peixe. Mas o som continuava a ecoar. O pobre do João Francisco, que estava com água até o peito, viu surgir rente a ele uma bela mulher, de cabelos lisos e encaracolados loiros, olhos verdes, colo farto e uma delicada pele alva, porém da cintura para baixo, um couro e escamas de peixe como uma calda, que varria o fundo da maré. Era uma sereia.
E disse ela:
– Então bom pescador, venha comigo…
João, inebriado pelo encanto da sereia, respondeu:
– Sim, eu vou…
A sereia atraiu o pescador para perto dela. Ele ao mergulhar viu a linda sereia se transformar em uma besta, com dentes e garras de marfim, espedaçando o pobre infeliz. Até hoje, os que pescam na Boca da Barra à noite temem ouvir o canto da sereia de Camurupim. E quando a maré seca deixa à mostra a “pedra da sereia”.
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