Por Pe. José Lenilson de Morais, Vigário Paroquial de São José de Mipibu.
Desde outubro deste 2012 até novembro de 2013 celebraremos o “Ano da Fé”. Tal acontecimento deve-nos levar a conhecer mais profundamente a pessoa de nosso Salvador Jesus Cristo, porém o mundo não é mais o mesmo. As pessoas mudaram seus conceitos e as convicções tendem a ser cada vez mais relativizadas, graças também ao fenômeno da divisão do cristianismo em milhares de igrejas e seitas, o que gera, proporcionalmente, uma multiplicidade de “rostos” de Cristo, conforme os gostos e conveniências de cada um. Mesmo assim, o período natalino é um dos mais belos do ano. São vários os motivos pelos quais tudo ganha mais cor, alegria, música e encanto. Por isto, é justo considerar o Natal e o Advento, que o prepara, como tempos da esperança.
O observador atento, porém, percebe que faz algum tempo que algo vem mudando nesta época do ano. É uma mudança visível e, ao mesmo tempo, camuflada, quase subliminar. O Natal, como o próprio nome já o diz, é a comemoração do Nascimento de alguém muito especial. Ele não foi chefe de Estado, filósofo, cientista renomado ou celebridade da moda. Simplesmente foi e é o Filho eterno do Pai, o Salvador da humanidade, que veio habitar no meio de nós, sendo em tudo igual a nós, menos no pecado. “E seu nome era Jesus de Nazaré”, canta Pe. Zezinho, na inesquecível canção “um certo Galileu”.
Nesta “mudança de época”, como dizem os peritos da Sociologia e Filosofia, há uma tentativa de substituir ou eliminar em tudo a presença do Sagrado. A proposta é uma espécie de laicizarão em massa, com clara matiz ateísta. Na verdade, uma espécie de neopaganismo reaparece com força em nossa sociedade. Vejamos que festas, como o “halloween”, ganham cada vez mais adeptos nos Estados Unidos e mesmo no Brasil, com uma aberta manifestação de “adoração” ao que era antes tido como horror e aberração. Criou-se, inclusive, a passeata dos “mortos vivos” para enaltecer ou colocar em evidência o mórbido como se fosse saudável e belo. As leis restringem cada vez mais qualquer apoio do Estado à cultura religiosa, inclusive aos seus sinais milenares (como o crucifixo), enquanto as manifestações contrárias à dignidade do ser humano, como a “marcha da maconha” e outras ganham permissão, apoio e financiamento. Não se trata de discurso de pessimista. É uma realidade: o Natal está sendo empobrecido em seu sentido profundo. Quando vamos às lojas, aos shoppings e às repartições públicas, por exemplo, vemos tudo muito colorido e iluminado para festejar o “bom velhinho”, sinal mais do consumismo do que da bondade ou generosidade das pessoas. Acontece uma substituição dos ícones do Natal. Em lugar da manjedoura, um belo carro a ser comprado ou sorteado; em lugar da imagem do Menino Deus, um grande boneco do Papai Noel. Nada contra as promoções e incentivo dos comércios, porém cabe a pergunta: se os comerciantes são “cristãos”, por que ofuscar aquele que dá sentido a todo clima de harmonia e paz, para o qual o Natal nos convida?
O Natal, junto com a Páscoa, é a festa cristã por excelência, mas não está sendo a celebração universal da pessoa que mudou para sempre a história da humanidade. A festa da entrega do “Presente do Pai”: o Salvador de toda a humanidade, Jesus Cristo. Estamos desprezando o principal para acolher o adicional; abandonamos o homenageado para curtir a homenagem. Para mudar o quadro só há um caminho: recomeçar, voltar às origens para redescobrir, na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, o que significa para o mundo ocidental o Natal do Senhor. Cabe-nos fazer ainda uma pergunta: neste “Ano da Fé”, como viveremos o Natal?
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