O Papa Francisco nos fala que temos que iniciar processos. A nossa cidadania cristã, no Mundo, não pode ser só, e somente só, a da ocupação de espaços. Essa postura está obsoleta, ultrapassada e anacrônica. Infelizmente é o que percebemos em muitas situações de realidades humanas, onde quem está à frente, não guia; mas sim é carregado nas costas de quem deveria ser liderado.
Quando só ocupamos espaços, somos carregados pelos indivíduos e pelas instituições das quais fazemos parte. Vivemos em função e por causa do que os outros construíram. Não desenvolvemos, nem fazemos história; mas somos arrastados pelos ventos, assim como as penas lançadas que não sabemos onde estão, nem para onde vão.
Hoje, vivendo estes tempos difíceis, estamos sendo interpelados a buscar e a testemunhar um “protagonismo diferenciado”. Quem tomar as rédeas da dinâmica da vida, no discernimento, com oração e estudo, aberto a sentir os sinais dos tempos, considerando que temos um mundo novo, com uma fase espiritual e com suas idiossincrasias, que está abrindo-se e que exige de todos nós uma capacidade hercúlea de reinvenção, terá muito mais condições de fazer a diferença nas instituições neste momento complexo da história da Humanidade.
Na vida eclesial essa exigência é intensificada e potencializada. Temos que puxar essa responsabilidade para cada um de nós, nas comunidades das quais fazemos parte. A nossa estrutura mental tende a nos colocar sempre numa situação de comodidade e conforto. Celebrar sacramento já é tudo pronto. As exigências são mínimas. O povo “ainda”está desejando e confiando nestes canais da graça de Deus, enquanto alguns ministros estão coisificando estes “sinais”, com fins econômicos e de mundanidade. Por isso, enquanto existe fé sobre a terra, nos utilizemos das várias oportunidades para abertura de coração das pessoas para o encontro pessoal com Jesus Cristo.
A pandemia nos provoca, mais uma vez, a um estilo novo de assumir esse “protagonismo diferenciado”. Não podemos estar com atitudes pueris. A desestruturação sanitária gerou muitas outras decomposições: na economia, na política, na vida religiosa, na familiar e nas subjetividades. É neste sentido que a ideia do Papa sobre a importância da “iniciação de processos” precisa encontrar “Eco” nas mentes e nos corações de quem está à frente das responsabilidades de exercício de liderança.
Enfim, é mais uma preocupação que tenho em meu íntimo e quero torná-la comum, a fim de que possamos nos “cansar no exercício de pensar”. A Igreja nos trouxe um integral e consistente ensinamento conciliar sobre o protagonismo de todos os fiéis batizados. Na relação entre ministros ordenados e demais membros do povo de Deus, a relação e a dinâmica deste protagonismo são diferenciadas. É importante que os fiéis todos tenham clareza sobre esse aspecto do modo de ser e agir da Igreja na sua catolicidade. Estamos a nos preparar para a realização do Sínodo sobre a sinodalidade. O Papa Francisco sabe que está iniciando processos. Ele não é alguém que só ocupa lugar. No momento, é quem faz acontecer na Igreja e para o Mundo. Assim o seja!
Por Pe. Matias Soares / Pároco da paróquia de Santo Afonso M. de Ligório/Natal-RN