A Lagoa do Bonfim, localizada em Nísia Floresta, na Grande Natal, atingiu em julho o menor volume hídrico em quatro meses, quando registrou 48,68% de ocupação de sua capacidade total que é de 84.268.200 m³, de acordo com acompanhamento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh). Especialistas fazem um alerta para os efeitos da queda do nível do reservatório nos 30 municípios da região Agreste, inclusive no abastecimento de água.
Isso porque a retirada das águas — feita principalmente pela Adutora Monsenhor Expedito, da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) — não vem sendo compensada pela recarga feita pelas chuvas, devido à redução do volume registrado em todo o estado. Entre janeiro e junho, o acumulado de chuvas no Rio Grande do Norte foi de 430,7 mm, valor 36% abaixo da média para o período.
Somente no mês de junho, a expectativa era de um volume médio de 90,2 mm, mas apenas 9 mm de chuvas caíram no RN, segundo análises da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). A previsão é de que as chuvas se mantenham abaixo da média até o fim do ano, segundo Gilmar Bristot, chefe da unidade instrumental de meteorologia da Emparn.
“A recarga dos reservatórios acompanha a condição de chuvas. Ela começa em abril e vai até junho. Em julho começa a diminuir até que em agosto não tem mais recarga porque as chuvas são pequenas. A lagoa vai perdendo água por evaporação, um processo natural, e pelas demandas de abastecimento e irrigação. Neste ano essas demandas continuaram ativas ao passo que não tivemos boas chuvas. Até o final do ano vai ser só retirada sem recarga. Então a tendência é de que os níveis continuem baixando e por isso há um risco real de desabastecimento”, comenta Bristot.
O professor do Departamento de Geofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Leandson Lucena, que estudou a Lagoa do Bonfim durante a pós-graduação, afirma que além do desequilíbrio gerado entre a alta demanda e as poucas chuvas, é possível que existam vias irregulares de retirada de recursos do manancial. “O que chega aos nossos ouvidos é que tem muito desvio de água da adutora, de forma até irregular. Falta um pouco também de gestão nesse sentido para a gente pelo menos minimizar essa questão. Isso é muito preocupante. Talvez uma instalação de uma nova estação de monitoramento possa ajudar porque quanto mais dados a gente tiver, melhor para fazer previsões e gerar modelos futuros”, opina.
A Adutora Monsenhor Expedito foi instalada pela Caern 1998, a princípio para irrigar 22 cidades. Atualmente, a companhia retira 1.700 m³ de água por hora da Lagoa do Bonfim. De acordo com o presidente da Caern, Roberto Sérgio Linhares, o volume captado da lagoa é o mesmo há 10 anos, o que é necessário para levar água aos 30 municípios e a 280 comunidades rurais. Ele comenta que o órgão tenta amenizar o preocupante rebaixamento do aquífero com a captação em cinco poços na região de Boa Cica, no município de Touros.
“Quando a adutora foi projetada não tinha essa previsão para as comunidades rurais, o consumo foi aumentando ao longo dos anos. A legislação diz que o uso da água deve ser prioritário para o consumo humano e a dessedentação animal. Estamos reativando os poços de Boa Cica, que é em outro manancial. Lá tem 12 poços, só cinco estão funcionando e a gente está cuidando para que esses outros sete possam funcionar. Só que a gente vai precisar melhorar a adutora dos poços de lá. Esse é o primeiro passo. A gente está sempre atento ao nível da Lagoa do Bonfim”, explica.