#DIADONORDESTINO: “SAUDADE DO SERTÃO” POR ELIETE MARRY

Imagem: José Pancetti/Pintor brasileiro (1902-1958)

Saudade é o sertão de minha infância

acordava com cheiro do café na cozinha

sob a mesa alegravam-se sete crianças

crepitava a lenha exalando o cheiro da papa com farinha.

Saudade é o sertão da minha infância

No alto da Serra de Santana, no Seridó

Novembro e dezembro tempos de bonanças

Colhíamos roçados de cajus, clima frio doía o mocotó. 

Saudade é o sertão da minha infância

Em épocas de estiagem aquarelavam matas secas

O mulheril reverenciava manhãs com canto de intinerância

Roupas alvejavam as margens dos açudes

moleques brincava de peteca.

Saudade é o sertão da minha infância

Comer melado de rapadura com bejú

Assistir o sol se pôr com elegância

Jantar bolacha assada com café ou suco de caju.

Saudade é o sertão da minha infância

Tantas vezes se comia preá torrado com farinha

Não fosse a seca tão brava conto isto com ofegância

O sertanejo agredia a natureza ou não escapava naquela terrinha.

Saudade é o sertão da minha infância

Quando chovia a água cicatrizava o solo rachado

E a molecada fazia folia com tal abundância

O gado na caatinga não fugia

papai tocava o aboio sentindo-se abençoado.

Saudade é o sertão da minha infância

Coisa mais linda era o mandacaru florindo

O sol pintando o céu de vermelho com elegância

E eu na frente do espelho me embonecando.

Saudade é o sertão da minha infância

À noite todos se juntavam na calçada

Histórias eram contadas com a benção da lua toda cheia de exuberância

A criançada brincava de passa o anel e tô no poço

eram noites abençoadas.

Saudade é o sertão da minha infância

Adormecer ao som da viola do repentista

Despertar com Luiz Gonzaga artista de grande importância Cresci com os ensinamentos dos meus pais do sertão – hoje sou ativista!

Poema Saudade do Sertão, por Eliete Marry.

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