ARTIGO: A LAICIDADE E O LAICISMO

O presidente francês, François Hollande, no dia 17/08/16, num encontro com o Papa Francisco, na Cidade do Vaticano, fez duas afirmações sobre o significado da Laicidade, que, sem dúvida, estão bem na linha do pensamento da Igreja acerca da questão. Eis as declarações: 1ª) A Laicidade: É uma mensagem que reconcilia e reune, não fere; 2ª) A Laicidade: É uma mensagem que deve proteger todas as confissões e assegurar a liberdade de crer, ou não crer.

São palavras extremamente significativas para a ordem global na atualidade. Vindas de um presidente francês, ainda mais; já que, neste país está o local central das conseqüências revolucionárias do Iluminismo europeu e seus desdobramentos para o mundo ocidental até hoje. Uma das maiores preocupações políticas do Velho Mundo na contemporaneidade é a situação da identidade cultural da Europa e suas perspectivas para o futuro. O Bispo Emérito de Roma, Bento XVI, já denunciava e mostrava suas grandes preocupações sobre a perda das raízes e bases da civilização européia. Com a crise emigratória, constituída historicamente pelo modo como os próprios países europeus e os Estados Unidos sempre trataram o Oriente Médio, e a saída da Inglaterra da União Européia, a situação tem tomado proporções e questionamentos geopolíticos preocupantes. Os chefes políticos europeus estão cientes de que a questão religiosa tem uma importância política fundamental. O Papa Francisco, quiça, seja o chefe de Estado e liderança religiosa que mais tem influenciado positivamente para que a Europa perceba que, sem diálogo, como gerador de pontes, a Velha Senhora terá muitas outras perdas e derrotas nos períodos vindouros. As declarações do presidente são sinais de que a narrativa política da Igreja para a situação mundial, onde as guerras por tantos interesses, que em muitas circunstancias, têm na instrumentalização da religião um forte aliado de justificação para atentados violentados e atos fundamentalistas, é a luz das Gentes para este momento e o futuro da Europa.

O pensamento que defende um Estado laicista, negando o valor e a importância que a religião tem para a vida social, sendo relevante só para o indivíduo, tem perdido muito espaço. Dizer que a religião não tem e não pode influenciar na formação e transformação da realidade cultural do mundo é um discurso que não tem consistência no que é visto na atualidade. A laicidade representa o ideal da possibilidade de considerar o fenômeno religioso como uma categoria inerente à condição humana e sua integração racional na vida em sociedade. A França e demais países europeus têm sentido profundamente as influências negativas de como a religião foi tratada na época pos-iluminista e o que está acontecendo dentro e fora da Europa com a questão religiosa. A maioria dos países europeus está minada por células de fundamentalistas religiosos. A Europa precisa sim, se reconciliar para reunir novamente; e ela precisa sim respeitar a liberdade religiosa, com a sua racionalidade, ressignificando os seus ideais de autonomia, que pensavam que só a razão conseguiria proporcionar. A Velha Senhora está precisando de cuidados. Necessita ter a atenção do seu Filho mais velho: O Cristianismo. Este também, deve se reconciliar com ele mesmo. Aí o significado indispensável do Ecumenismo. A Igreja, oficialmente, no Vaticano II com sua preocupação com a unidade dos cristãos, já avançara nessa visão, que não era somente teológica, mas também política e social.

Por fim, essa atenção ao papel da religião para a estabilidade democrática e política das nações deve ser tida com sabedoria por todos os líderes globais e locais. O respeito às instituições e às concepções culturais dos povos não pode ser menoscabado por nenhum líder, que tenha atenção em respeitar o que é do povo. Assim o seja!

Por Padre Matias Soares
 Pároco de São José de Mipibu e Vigário Episcopal da Arq. de Natal
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