O QUE MUITOS POLÍTICOS PENSAM DO POVO

Por Pe. Matias Soares, Vig. Episcopal Sul e Pároco de S. J. de Mipibu.

DSCN7601_zps7ac2de82A política é uma arte humana. Fruto da ação das pessoas. Onde existe ser humano, aí existe política. Os “profissionais” desta prática não aceitam esta assertiva. Eles não podem aceitar, pois faz parte do jogo do poder. Nenhum outro agrupamento que não veja a política como estratagema de manutenção do poder e dos ganhos pecuniários tem nada a dizer, ou pior, não pode dizer. Estes se tornam inimigos. Devem ser perseguidos, desacreditados e assassinados moralmente para que não tenham nenhuma credibilidade. É o “jogo sujo” dos que não têm estrutura moral, nem intelectual para avançar com competência e honradez. Mais que uma concepção maquiavélica, é uma concepção de quem não tem moral e dignidade. O pragmatismo maquiavélico não anula as capacidades do príncipe.

Não podemos esquecer que em meio a tudo isto está o povo. Este é uma questão nominal ou é real? Quem é o povo? Ele é sujeito ou objeto? Aqui existe uma sutileza a ser refletida. Estamos inseridos num povo. Somos livres e sê-lo implica em dizer que podemos… O povo é aquele que pode. Nos desenvolvimentos da política o que está em jogo é sempre o poder para fazer. Ou o individual faz por si ou alguém é escolhido para fazer pela coletividade. Nas nossas paragens brasileiras, aparentemente, deve prevalecer este último e a isto qualificamos de “democracia”. Este conceito é dos gregos. O poder que emana do povo e que deve estar em favor do bem deste povo, ou seja, da coletividade. Enfim, chegamos onde queríamos: Pensemos o povo como coletividade.

Infelizmente, esta coletividade, pela falta de educação e outros direitos sociais, que não são garantidos, se tornou massa de manobra. O alto índice de corrupção que assola a política brasileira testifica esta conclusão. Nos nossos dias, a política tornou-se um negócio e, por sinal, bem lucrativo. Muitos se aventuram na política. Mesmo quando não ganham, lucram! Como observamos estas facetas nalgumas realidades! Não existe politização de quem se candidata e do povo que não sabe votar. Como, o ser humano, carrega consigo as marcas do pecado, onde ele está o mal aí o acompanha. A corrupção é a prova existencial da realidade do pecado. Não é a toa que o Papa Francisco diz que somos pecadores, mas não podemos nos entregar a corrupção; não podemos perder o temor do Senhor e da Sua justiça.

Devido a estas simples observações, vemos amiúde como os políticos veem o povo. Para estes o povo é só objeto para que estes possam “estar” no poder. O povo não passa dum bando de alienados, ou seja, aqueles que estão longe da realidade e que podem ser enganados no presente e no futuro. Basta oferecer pão e circo e tudo está resolvido. Vejam a concepção da política romana e que é tão praticada nalguns contextos modernos. O povo despolitizado se deixa enganar com muita facilidade. Na Posmodernidade, surgiu um agravante: Os meios de comunicação, quando não agem com ética e visam também os seus interesses econômicos, sem nenhum compromisso com a verdade e com o bem social, contribuem para que as mazelas sociais perdurem, e que a escravização e exploração do povo sejam agravadas. Certa vez, escutei dum político imoral e sem escrúpulos que a mídia resolvia tudo. Por trás desta afirmação existe uma concepção do que seja a mídia para ele, a saber: “instrumento de manipulação e engano do povo”.

O povo ainda pode acordar. O povo pode interpretar a realidade. Os atores sociais comprometidos com a justiça e a liberdade precisam ter um senso de responsabilidade mais aguçado. Não é questão de ingenuidade, é questão de valores. Os nossos princípios parecem estar adormecidos e tem muito pilantra se aproveitando disto para, mesmo sendo portador de tanta mediocridade, continuar cometendo atrocidades de modo tão irresponsável e sem nenhum compromisso com a verdade e a justiça. Quando for observado a supervalorização da política do “pão e circo”, é porque não existe a junção da “política com gestão/adminsitração”. A política tem que ser amiga da gestão/administração. Esta última exige planejamento, organização, ética, respeito pelo bem da coletividade, honestidade, empreendedorismo, trabalho em equipe, respeito ao que é da comunidade, relação dialógica com as instituições e outras preocupações afins.

Por fim, as pessoas que votam naqueles políticos que tratam o povo como objetos de manipulação e que não têm compromisso com o bem comum, estão fazendo muito mal, não só a si, mas também ao futuro do país. Para estes profissionais da política o que vale do povo é o voto. Só isso. A dignidade das pessoas não vale nada. Eles não têm amigos, nem parceiros. Todos ao seu redor não passam de coisas que podem ser compradas com o “dinheiro público” e só têm serventia enquanto baixarem a cabeça para suas palavras e atrocidades. Mas não podemos perder a esperança que a racionalidade e o bom senso podem sempre oferecer uma luz para que muitos saiam da caverna. Assim o seja!

Publicidade

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *