Por Pe. Matias Soares, Pároco de S. J. de Mipibu e Vig. Episcopal Sul.
O Brasil vive uma pressão constante das classes populares. Depois das manifestações acontecidas nas ruas, que continuam em menor escala nos vários recantos do País, a cara da nossa real situação social está mais revelada. Com a força dos meios de comunicação a serviço do poder político e econômico, os mundos das fantasias aparecem mais do que o real da vida dos cidadãos. O País é apresentado no exterior como a Alice que vive no mundo das maravilhas.
Lembro-me que ainda quando estava estudando em Roma, nalgunas viagens por países europeus, sempre era questionado pelo carnaval e o futebol. Parecia que era só o que existia nas nossas terras. A cultura brasileira é vista sob estas duas manifestações lúdicas. Não conhecer as raízes históricas e geográficas do povo brasileiro, tornou ainda mais susceptível o repasse desta imagem dum Brasil, que mesmo com tanto carnavalismo e festividades, vive um Oasis da democracia latino americana em pleno desenvolvimento econômico e social.
Uma reviravolta que não estava sendo esperada aconteceu: As periferias das classes sociais começaram a ter acesso às Redes Sociais. Conseguiram expressar suas inquietações a partir do seu mundo, suas exclusões e anonimatos. Os sem voz e sem oportunidades de fala nos grandes centros se organizaram para ir aos lugares mais visíveis. Ninguém pode segurar. Até os Rolezinhos começaram a acontecer. Os jovens, que ainda não têm concepções ideológicas determinadas, mostraram que existem vontades que precisam ser compartilhadas. Querem estar com os outros e mostrar uma face que os pais já não conhecem. Estes sinais demonstram que vivemos uma época nova na política brasileira, que, sem dúvida, ainda não visualizamos aonde vai parar. E não sabemos para onde vai porque sempre tivemos uma política desagregada da administração, sem planejamento e objetivos para longo prazo. Não existe política de estado, mas de governo. Quando um quer se perpetuar no poder e para isso, os fins justificam os meios, o pragmatismo político torna as possibilidades imediatas o caminho mais fácil a ser percorrido; e por isso, todos querem um lugarzinho, pois sabem que terão poder e dinheiro, mesmo sem qualificação e probidade ética. O vício gera vício.
Existe um Caos Social que a política brasileira reconhece; mas não está preocupada, nem tem competência para enfrentar. Se o fizesse, perderia o Status Social que determinou a história política, geográfica e econômica deste País. Vejamos que a falta dos Direitos Sociais Básicos é uma chaga que aflige a vida de todos os cidadãos desta tão amada nação. Quando falo de Caos Social, volto minha leitura da realidade para estas carências do dia a dia das populações, principalmente, as mais pobres e sofridas. Diante disto, deveríamos nos perguntar: Por que investimos tanto em festas carnavalescas, quando, o que o povo mais precisa é que outros serviços sejam atendidos? Por que não perguntam à população? O jogo do pão e circo funciona, mas é sintoma da ausência dum nível de educação de qualidade, que deve ser pensada integralmente, desde a melhoria da situação formativa e econômica dos professores até o cuidado humanizado de todos os alunos e demais funcionários; e ainda, duma falta de sensibilidade dos representantes para com suas responsabilidades, enquanto servidores do Povo e zeladores do Bem Social. O Carnaval pode ser visto como cultura, quando parte dos sentimentos que foram tecidos na e pela história dum povo. Como nos falta conhecimento, o sem sentido confunde ainda mais as nossas raízes.
Diante destas complicações sociais e carências de bens e serviços que estão nas nossas cidades e pequenas comunidades, será que não poderíamos rever as prioridades que deveras são importantes para as pessoas? No mínimo, nos preocupemos com o justo meio. Lutemos para que a segurança pública, a saúde, a educação, o esporte, o saneamento básico, o cuidado com as periferias das cidades, a prevenção e o combate às drogas, trabalho e outros bens sociais sejam buscados para a promoção humana de todos! Não deixemos que o êxtase confunda este despertar social e político dos cidadãos, pois de modo mais politizado e sem violência, esperamos que isto não pare.
Por fim, falar em Carnaval e Caos Social é, antes de tudo, instigar uma reflexão de todos para que num País que sedia uma Copa do Mundo a preocupação pela Justiça Social não seja esquecida e o que é para o Bem Comum seja uma luta constante dos que têm consciência do seu protagonismo na busca por um mundo melhor, a partir da nossa realidade e do nosso chão. Assim o seja!
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