Por Rejane de Souza, Doutoranda em Literatura e Colunista do Nísia Digital.
É interessante observar o papel que a mulher vem desempenhando na sociedade há algumas décadas. Hoje, ela exerce funções no mundo do trabalho, da política e do judiciário que seriam inimagináveis no século, recentemente, passado. Nesse contexto, a memória evoca a história para reverenciar a ousadia, a coragem e a determinação de certas mulheres que quebraram tabus, ignoraram o preconceito e ultrapassaram obstáculos para reivindicar direitos e fazer justiça ao sexo feminino, que a despeito de uma cultura, ainda, arraigada, nunca foi frágil.
Entre essas mulheres, exalta-se, aqui, Nísia Floresta. De fato, a história desta mulher tem uma importância rara, não só para o país e o RN, mas, principalmente, para a cidade em que ela nasceu. Embora, os próprios habitantes nísia-florestenses não se dêem conta disso. É preciso, no entanto, ressaltar que tal realidade se justifica, em tese, pela falta de divulgação da vida e da obra de Nísia pelos que administram o município. Alguns moradores só têm tido conhecimento sobre tão ilustre figura através de iniciativas individuais, porém é preciso uma divulgação mais permanente e profunda sobre essa personalidade que tem o nome do município.
Ao se falar nesta mulher, nunca é lugar comum destacar que ela foi uma educadora, escritora e poetisa nascida em 12 de outubro de 1810, em Papari, Rio Grande do Norte, filha do português Dionísio Gonçalves Pinto com uma brasileira, Antônia Clara Freire. Ela foi batizada como Dionísia Gonçalves Pinto, mas ficou conhecida pelo pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Nísia é o final de seu nome de batismo. Floresta, o nome do sítio onde nasceu. Brasileira é o símbolo de seu ufanismo, uma necessidade de afirmativa para quem viveu quase três décadas na Europa. Augusta é uma recordação de seu segundo marido, Manuel Augusto de Faria Rocha, com quem se casou em 1828, pai de sua filha Lívia Augusta.
Essa pensadora nísia-florestense viajou por toda a Europa, mas foi na França que se estabeleceu e criou laços. Nísia Floresta estudou, escreveu e se privou do convívio dos maiores intelectuais europeus da época, como Alexandre Dumas, Victor Hugo, Georges Sand e Augusto Comte. Pelo que se tem notícia, Nísia Floresta deve ter sido uma das primeiras mulheres no Brasil a romper os limites do espaço privado para publicar textos em jornais da chamada grande imprensa. E foram muitas suas colaborações que, a cada dia, surgiam sob a forma de crônicas, de contos, de poesias e de ensaios. Aliás, este é um traço da modernidade de Nísia Floresta: sua constante presença na imprensa nacional, desde 1830, sempre comentando as questões mais polêmicas da época.
No campo da educação, Nísia Floresta assume um papel de suma importância para uma época em que o direito à educação era reservado somente ao sexo masculino. Em caráter de pioneirismo e ousadia, Nísia funda e dirige os primeiros colégios para moças no Brasil, primeiro no Rio Grande do Sul e, posteriormente, no Rio de Janeiro. Em síntese, Nísia foi, acima de tudo, humanista, e abraçou todas as causas que acreditava que pudessem trazer mais justiça social às mulheres e aos homens.
Na verdade, o ufanismo de Nísia deveria estar no espírito de cada um de nós, e, em especial, aos nísia-florestenses que caminham por um chão onde um dia viveu uma mulher que imprimiu sua marca na história da literatura feminina na Europa, no Brasil e, com certeza, contribuiu para os avanços e conquistas que hoje as mulheres desfrutam.
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