Por Luís Carlos Freire, especial para o Nísia Digital.
Todos nós viemos através das mulheres. A nossa primeira casa foi a mais confortável e agradável de todas: o útero das nossas mães. Jamais encontraremos casinha tão aconchegante, por mais que tenhamos o melhor dos confortos. Mas isso é para entendermos a dimensão de uma mulher. Para nós, cristãos, tudo começou com Eva… Uns dizem que houve pecado, outros dizem que não! Depois a história trouxe Maria: a Mãe do Nosso Salvador. A humanidade foi se transformando ao longo dos séculos… Uma mulher aparecia aqui… outra ali… e assim elas faziam história, mesmo que nem imaginassem. Surgiu Joana D’Arc e foi queimada viva por lutar em prol da liberdade.
A mulher, mesmo interpretada como um ser inferior, muitas vezes comparada a um objeto, foi aparecendo cada vez mais e conquistando o seu espaço.
Em cada país aflorava a atitude singular de algumas mulheres, desde a mais simples a mais audaciosa. Desde a menos esclarecida a intelectual.
Aos poucos as páginas da história do Brasil foram apresentando nomes considerados importantes: Princesa Isabel, Dona Leopoldina, Imperatriz Teresa Cristina, Maria Quitéria e mais uma meia dúzia.
Sabemos que alguns nomes, por questões culturais e políticas foram ofuscados. Outros, exaltados por mero protocolo ou conveniência, em detrimento de outros nomes merecedores por excelência. Até mesmo uma parcela das próprias mulheres – contaminadas pelo sistema – era preconceituosa com relação a sua própria emancipação. Mas, de algum modo, mesmo acanhadamente, a mulher foi se firmando, mostrando que existia, que era capaz e assim desafiava as intempéries dos terrenos preconceituosos.
Quando se fala – e se falava tanto – em direito das mulheres, igualdade de oportunidades e outras temáticas de gênero, não se está instigando uma guerra dos sexos – com o alguns assim o entendem – mas construindo uma sociedade justa, harmônica e civilizada, na qual todos têm as mesmas oportunidades e contribuem com esse ideal, e que a sexualidade não seja parâmetro para medir capacidade intelectual.
O Rio Grande do Norte, estado onde as mulheres foram as primeiras em muitas inovações, surgiu Clara Camarão: a incansável guerreira índia do século XVII. Depois veio Clara de Castro: a revolucionária irmã do Padre Miguelinho, mulher de coragem surpreendente.
Ritinha Coelho: na aparente e silenciosa atitude de cobrir o corpo de André de Albuquerque Maranhão com uma esteira, gritou alto contra a tirania de poderosos governantes.
Nísia Floresta: um dos nomes mais significativos da história do Brasil. Permanece ainda meio desconhecido. Mas poucos homens e mulheres sabem que hoje o sistema lhes dá alguns direitos pela incansável batalha dessa insigne mulher, a qual escandalizou o Brasil imperial única e exclusivamente por postular um país civilizado e com direitos iguais para ambos os sexos.
Isabel Gondim deixou seu nome escrito nas páginas da educação. Ana Floriano: a grande líder da rebelião mossoroense… Auta de Souza: um gênio que era para estar nas páginas da história da literatura brasileira pelo nível de seus escritos. Maria Madalena Antunes, autora do Oiteiro. Imagine se essa mulher tivesse freqüentado universidade? Seu único livro nos dá ideia de sua intelectualidade. Maria do Santíssimo: pintora pobre e esquecida, mas autora de uma técnica artística bela e inusitada.
Palmira Wanderley: nome forte na poesia. Alzira Soriano: a 1ª prefeita da América do Sul, nascida na acanhada Jardim de Angicos. Julia Alves Barbosa: uma das pioneiras em prol da emancipação das mulheres. Celina Guimarães: a 1ª eleitora. Mariz do Céu Fernandes: Uma das primeiras deputadas do Brasil. Lucy Garcia: pioneira na aviação potiguar. Sobrevoou Natal na década de 40, causando pânico em muitas pessoas que jamais imaginavam a técnica e o profissionalismo daquela que já possuía brevê, mas que amedrontava unicamente por ser mulher.
Noilde Ramalho: a mulher que se casou com a educação do Rio Grande do Norte, projetando internacionalmente a instituição fundada por Castriciano. Assumiu a Escola Doméstica em 1945 e permaneceu 50 anos a frente de uma das mais importantes escolas do Brasil.
As Irmãs Vigárias, que foram notícia no mundo inteiro ao receber gradualmente às mesmas incumbências de um sacerdote. E foram protagonistas – juntamente com Dom Eugênio Sales – da criação da Campanha da Fraternidade no Brasil. Ideia germinada aqui em Nísia Floresta.
Ademilde Fonseca: a rainha do chorinho. Nada foi obstáculo para o seu talento. Militana Salustino: apesar de nunca ter estudado, surpreendia por sua capacidade de memorizar e contar histórias e romances milenares oriundos da península ibérica. Encantou os mais respeitados especialistas em cultura popular. Mirian Coeli: uma das primeiras jornalistas do Brasil – exímia poeta. Zila Mamed: seu nome se confunde com a beleza das poesias.
Luzia Dantas: suas mãos mágicas esculpiram imagens comparadas às criadas por renomados escultores internacionais. Virna: a colecionadora de títulos no vôlei. Fernada Tavares, a top model que encanta o mundo com sua beleza, Zelma Bezerra Furtado de Medeiros, a fundadora da Academia Norte-rio-grandense de letras e do Memorial da Mulher Potiguar. Fátima Bezerra, deputada de renome, uma referência na política brasileira.
Dilma Roussef: não a reverenciaria nem tanto por ser a primeira mulher chefe de estado, mas por ser a primeira mulher competente e preparada para essa função. O ideal não é “ser a primeira” ou “ser o primeiro”, mas ter know-how para ocupar um posto.
Amanda Gurgel, a vereadora que surpreendeu Natal. Teve um quociente de votos capaz de elegê-la como deputada estadual. Dizem que ela será corrompida. Será que o sistema corrompe o caráter ? Creio que não!
Quantas mulheres… Quantas histórias…
Algumas ainda não compreenderam a proposta das pioneiras que batalharam para ter a sua capacidade intelectual reconhecida, e dão a essa liberdade um cunho diferente. Estariam regredindo? Não! Apenas fazem uso – ao seu modo – dessa tal liberdade.
Salve todas as mulheres brasileiras e em especial às nisiaflorestenses.
Salve as mulheres simples, que passam o dia inteiro às margens dos rios, colorindo com roupas alheias os arames farpados para sobreviver.
Salve as mulheres fabricantes de pecado-maneiro, beju, mandioca mole, grude, tapioca bolo e tantas iguarias vendidas nas ruas e feiras.
Salve as nativas, que reinventam coisas e fazem milagres para sustentar a família com honestidade.
Salve as mulheres tristes, que choram os seus filhos detidos nas frias grades de uma prisão, e acreditam ser capaz de reeducá-los.
Salve as mulheres cujos contextos não nos cabe julgar, mas que optaram pela mais humilhante forma de amar.
Salve as mulheres educadoras, políticas, médicas, garis, donas de casa, agricultoras, faxineiras, juízas, enfim todas as mulheres que lutam por um mundo melhor.
Salve as mulheres que evangelizam pelo mundo afora.
Que esse dia seja momento de repensar as conquistas de cada qual e o seu papel de agora em diante, lembrando que o melhor de tudo é ser útil à sociedade.
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