Por Redação, da Tribuna do Norte.
A imagem mais famosa da seca está comumente restrita à Zona Rural. Contudo, em tempos de estiagem severa, os efeitos da falta de chuvas no interior potiguar chegou às cidades. Por conta de uma combinação de falta de infraestrutura do sistema atualmente em funcionamento e por dificuldades inerentes à estiagem, cidades como as da região Agreste do Estado estão tendo de economizar água, segundo gestores e agricultores entrevistados. Além da seca, eles citam a incapacidade da adutora Monsenhor Expedito suprir a atual demanda.
Inaugurada em 1998, a adutora foi planejada para atender 22 cidades e cinco comunidades rurais. Com o passar do tempo, a responsabilidade da adutora, que capta água da Lagoa do Bonfim em Nísia Floresta e atende todo o Agreste, saltou para 30 municípios e 250 comunidades rurais. A vazão da água, de acordo com o secretário estadual de Recursos Hídricos, Gilberto Jales, nunca mudou, ficando sempre em 1,7 milhão de litros de água por hora. Ou seja, a adutora trabalha acima da sua capacidade. Isso levou a Lagoa do Bonfim ao limite da capacidade de fornecer água (veja entrevista de Gilberto Jales).
Tendo como pano de fundo a seca, a performance da adutora tem sido alvo de críticas praticamente em todos os lugares por onde ela passa. Em Nísia Floresta, por exemplo, moradores dos arredores da lagoa reclamam no nível da lâmina d´água. “Daqui a pouco não tem água nem para nós e nem para o sertão”, gritou um morador enquanto a reportagem fazia as fotos que ilustram essa matéria. No interior, a reclamação é oposta. São Tomé, Lajes Pintadas, Campo Redondo, Coronel Ezequiel. Em todos esses lugares, o problema é falta de água limpa na torneira.
Em Lajes Pintadas, os dois chafarizes da comunidade Barro Preto são abertos apenas durante uma parte do dia. Passar por aquelas ruas é um cruzar constante com carroças repletas de tambores de água e animais de carga transportando baldes e bacias. Segundo o prefeito Nivaldo Alves, a Caern quis fechar os registros por conta da seca. “Nós fizemos um pedido pra continuar com o chafariz. A comunidade precisa”, diz Nivaldo. A Caern nega. Segundo Ricardo Varela, os chafarizes que foram fechados pela companhia tiveram como motivo a falta de pagamento.
A cidade de São Tomé vê situação parecida. Os pontos onde a encanação da adutora é aberta têm horário específico para funcionar: das 06h às 14h, de acordo com José Janilson. O criador de gado tem conhecimento de causa. Com a seca, vendeu os 400 animais que possuía. Hoje trabalha fornecendo água para os agricultores da região, nos carros-pipa de sua propriedade. Um dos dois chafarizes da Caern fica em sua terra. Ele retira a água, vende aos proprietários e paga a conta do chafariz para a Caern. A “pipa” custa entre R$ 80 e R$ 120. A Caern, por sua vez, segundo o próprio Janilson, cobra entre R$ 25 e R$ 30 por carrada.
Em Campo Redondo, a água da adutora precisa ser misturada à água de um açude da região. Com a seca, a qualidade da água do açude diminuiu. “Além da coloração barrenta, tem um odor que incomoda. Não dá pra beber uma água dessa forma. A cidade inteira tem que comprar mineral”, explica, José Severino da Silva, conhecido como Zé Leão, e que é o responsável pela defesa civil de Campo Redondo.
O sistema adutor Agreste/Trairi, abastecido pela adutora Monsenhor Expedito, tem um projeto de expansão. A ideia é cavar poços e diminuir, ou extinguir, a captação de água a partir da Lagoa do Bonfim. Serão 12 poços, dos quais quatro estão prontos. De acordo com Gilberto Jales, secretário de Recursos Hídricos, a obra deve ficar pronta até fevereiro do próximo ano
A dificuldade de se obter água em algumas comunidades rurais do interior do RN se arrastam desde maio, mas tiveram uma paralisação “mágica” nos três meses de campanha política nas eleições municipais. Segundo relatos colhidos durante as entrevistas em algumas cidades do interior, a prática corrente dos candidatos era fornecer carros-pipa durante a eleição. Passado esse período a “ajuda” minguou e os produtores precisaram voltar a desembolsar entre R$ 80 e R$ 100 por “carrada” de água.
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