O SUICÍDIO DO ESTADO LAICO

Por Pe. Matias Soares – Pároco de S. J. de Mipibu e Vigário Episcopal Sul.

A discussão sobre a separação entre o Estado e a Igreja foi retomada com muita ênfase nas eleições passadas e nalgumas das recentes decisões do STF. Líderes religiosos entraram no cenário político com discursos que influenciaram significativamente nas disputas pelo poder e na opinião quanto à questão da Dignidade Humana. As proposições saíram do âmbito acadêmico e entraram nos púlpitos com relevante entusiasmo. Os novos areópagos, que são os meios de comunicação social, ajudaram neste tiroteio.

Os laicistas defendem que a religião deve estar voltada para o que é privado. A fé é da esfera individual. Não pode envolver e determinar o que é de âmbito público. Mais propriamente se retruca a possibilidade da Igreja (ou igrejas) influenciar no que é próprio do Estado. As outras igrejas reconhecem a necessidade desta separação; todavia, defendem a importância do reconhecimento de princípios e valores humanos religiosos na constituição da legislação dos direitos e deveres dos cidadãos que são fiéis, e fiéis que são cidadãos.

Na Europa e nos Estados Unidos, a discussão mais atual, no tocante aos direitos humanos, é o tema da “Liberdade Religiosa”. Esta não é uma bandeira, só e somente só, do Papa Bento XVI. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) propaga e defende este Direito. Por estar aberto ao transcendente, e isto é comprovado em todas as culturas, o homem tem esse “dogma jurídico” salvaguardo no Ocidente desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O Cristianismo entra neste desenrolar histórico como via de síntese na concepção da Pessoa Humana e seus direitos fundamentais e inalienáveis. Como pensar epistemologicamente os conceitos de Dignidade Humana, Liberdade, Solidariedade, Fraternidade, Justiça Social, Unidade, Respeito, Bem Comum, Igualdade, Amor, Perdão, Misericórdia, Subsidiariedade, Família, Verdade, Estado etc sem dizer que eles não foram elaborados pela Igreja, nela e através dela chegaram aos propositores Iluminados (pensadores iluministas)? As contribuições da Igreja para o reconhecimento dos valores e direitos das gentes são inegáveis. A roupagem filosófica que levou à apropriação feita pelo Estado destes conceitos e por quem deles se utilizaram para a tomada dos poderes. O Cristianismo enriqueceu estes bens necessários para a integração da Pessoa Humana, como ser de relação com o transcendente e com o próximo.

O dito estado laico também não consegue determinar o que é humano. Ele não consegue cumprir suas utopias. Onde está a Segurança Pública? Onde tem Moradia para todos? A Saúde é de qualidade? Onde se encontra a Educação? A Justiça Social é encontrada em todas as ruelas? Nós temos que procurar por estes Direitos. Tem pouca gente lutando por eles. A maldita e sórdida corrupção apodrece o Sistema. Talvez porque não sejam dispensadas “cachoeiras de dinheiro” para que eles sejam adquiridos, poucos os busquem, para aqueles que deveras são os senhores da “Real Democracia”!

Por fim, que a vida plena para todos seja uma meta dum Estado forte e respeitoso das instituições, inclusive daquelas que são sinais de que só haverá verdadeira justiça quando Deus estiver presente com seu amor e misericórdia, que garantem a integração das pessoas e, por isso, do próprio Estado Democrático de Direito. Salve a Liberdade Religiosa! Assim o Seja!

Publicidade

Compartilhe

3 respostas para “O SUICÍDIO DO ESTADO LAICO”

  1. Andre Colossus

    Penso que a afirmação que houve influencia religiosa do cristianismo na criação (desenvolvimento) da sociedade atual é antecipada e desnecessária.
    Não há como negar que em alguns pontos a ideia de direitos humanos atual e a propagada, hoje, por alguma igrejas tem alguma (ou muitas) semelhanças, mas dizer que parte puramente de principios religioso é apelar para Post hoc ergo propter hoc.
    Assim como a própria sociedade, os dogmas pregados por algumas religioes cristãs tem certa parcela de modificação. Não podemos simplismente esquecer que através utilização do livro base para essas religiões foi possivel manter a mulher fora do âmbito politico (entre outros) por muito tempo.
    Não se pode deixar de lado a importância filosófica no entendimento e aceitação da pessoa como individuo e parte de um todo, mas existem certos pontos dos dogmas pregados no âmbito religioso que não se aplicam a certos conceitos sociais e individuais e quer impor isso a todos através de emendas constitucionais chega a ser trágico para a liberdade individual.
    Digo que a liberdade religiosa deve ser preservada, assim como qualquer liberdade individual, mantendo-se sempre no limite da interferência para/com o próximo, e é por isso que defendo o total afastamento da igreja do âmbito político. Pois atribuir obrigatoriamente conceitos religiosos para toda a sociedade não é liberdade, é “proselitismo social imposto”(sic).

    Tenham um ótimo dia!

  2. Pe. Matias Soares

    A pessoa que fez do comentário não fundamentou nem deixou claro o que queria com sua verbalização. Em nenhum momento foi tratado de questão dogmática. O que foi enfatizado e reconhecido que houve uma ressignificação dos conceitos cristãos ou salvaguardados por estes na formação ocidental sobre questões fundamentais de direitos humanos. Ainda, a reflexão defende a separação entre Igreja e Estado; no entanto, aponta que as “utopias” prometidas por este “Estado Laicista” não são realizadas.

  3. Andre Colossus

    “aponta que as “utopias” prometidas por este “Estado Laicista” não são realizadas.”E tambem não eram quando o cristianismo mantinha o rumo nas “decisoes estatais” (vide idade media).
    Eu quiz dizer que não é interessante a perda da laicidade por parte do cristianismo ao qualquer outra.
    Qual seria, por exemplo, a postura de um Estado que seguisse a risca os preceitos cristaos com relação a outras religioes, visto que a adoração de outros deuses é passivo de punição divina segundo Levitico?
    Conceitos religiosos devem ficar nas igrejas. Existem pontos pregados no ambito religioso que diferem de muitas pessoas fora dela.
    Na dúvida, o que eu quero dizer é que nenhuma igreja tem ideais para gerir um Estado interessante para mim, por isso sou a favor da completa laicidade estatal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *