Moradores da Grande Natal reclamam da insegurança

Por Rafael Duarte
Diário de Natal

O universitário Francicláudio Oliveira, 23 anos, percorre os 39km que separam Natal de São José de Mipibu preocupado. Somente na semana passada, foi vítima de dois assaltos ao ônibus que o levou do centro de São José ao bairro de Petrópolis, em Natal, onde trabalha como estagiário. Os dois assaltos ocorreram na região próxima ao Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim. A falta de segurança é um dos pontos levantados pelo jovem estudante que comprova que a Região Metropolitana de Natal ainda é um sonho.

Formada por nove municípios, a Grande Natal tem falhas. A área de transporte público é uma das mais complicadas. Além de poucas linhas intermunicipais disponíveis para os usuários – em São José do Mipibu existem apenas duas -, falta fiscalização e o mínimo de conforto. “A empresa até retirou os bagageiros e as cadeiras agora estão sem o braço. Os ônibus também não passam no horário certo. Acho que precisaria de mais linhas de ônibus e fiscalização. Não existe essa integração entre os municípios”.

Francicláudio mora no bairro Pau Brasil, região afastada da área urbana de São José de Mipibu. Até o centro, distante 4km da casa dele, o estudante pega o ônibus disponibilizado pela prefeitura. Para o trabalho, paga R$ 2,25 pela passagem. “Gasto R$ 120 por mês só com as passagens. Acordo 5h30 da manhã e volto para casa às 23h, quando termina a aula. O problema é que quando o ônibus atrasa na volta, perco o da prefeitura que me leva do centro de São José para casa. Se não tiver mototaxi, que cobra R$ 2 pela viagem, tenho que ir a pé. Teve dias em que cheguei depois da meia-noite em casa”.

Preconceito

Durante seis anos, a auxiliar de serviços gerais do INSS Maria Lúcia Monteiro, 31, procurou trabalho na área de telemarketing. Fez cursos, se especializou, mas não conseguiu o emprego. O problema, descobriu com o tempo, não era a capacitação para o serviço. Maria Lúcia perdia as vagas quando dizia onde morava. “Toda vez que dizia que era de São Gonçalo do Amarante,a pessoa falava que não dava, era muito longe e ia ficar caro para a empresa. Fiquei seis anos tentando telemarketing porque me preparei, fiz curso. Aí apareceu esse trabalho no INSS e desisti”.

A viagem de São Gonçalo para Natal é feita em pouco mais de uma hora através da única linha de ônibus que liga as duas cidades. Lúcia pega a primeira condução às 5h45 para chegar às 7h no trabalho. O expediente termina às 16h, momento em que aguarda o ônibus de volta para casa. No entanto, ao invés de descansar e tomar conta do filho pequeno, prepara o jantar e corre para seguir, de novo, rumo a Natal. “Estou fazendo a capacitação em técnica de radiologia. Também tem na Zona Norte, mas aí teria que pegar dois ônibus. São Gonçalo deveria dar oportunidade de emprego para que os moradores não precisassem trabalhar em Natal”.

Planejamento

Presidente do Parlamento Comum da Região Metropolitana de Natal, o verador George Câmara (PC do B) afirmou que a Grande Natal é um produto da falta de planejamento. Ele admitiu falhas no projeto da Região e acredita que o Parlamento – fórum de vereadores criado para debater os problemas da integração entre as cidades – pode amenizar os problemas.

George também criticou o “desmonte” das cidades provocado pelas políticas de privatização implementadas pelos governos. “Nós expulsamos a população rural para as cidades no momento em que desmontamos a estrutura dessas cidades através das privatizações. O que falta é planejamento. A Copa do Mundo é um exemplo disso”.

Segundo o vereador, a Copa do Mundo de 2014 não atende às necessidades dos municípios que integram a Grande Natal. “Ninguém viu esse projeto direito. Foi tudo feito às pressas. Se você pegar o Plano Diretor e o Plano de Desenvolvimento Econômico de Natal, que são os estudos mais recentes vai ver que não há nada pensado sobre essa Copa. Natal é a segunda menor capital do país e, por isso, o projeto deveria ter englobado a região metropolitana”.

Dados da RMN

Municípios

Natal
Extremoz
Ceará Mirim
Macaíba
Monte Alegre
Nísia Floresta
Parnamirim
São Gonçalo do Amarante
São José de Mipibu

Importância

– 5,1% da área do RN é ocupada pela Grande Natal
– 42% da população do RN vive na região metropolitana
– 37% dos eleitores do RN vive na RMN
– 48% do Produto Interno Bruto do RN vem do centro urbano

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